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domingo, 26 de novembro de 2023

Escrito por em 26.11.23 com 0 comentários

Esportes Árticos

Ao longo do ano passado, eu fiz alguns posts falando sobre torneios multiesportivos, como os Jogos Panamericanos e os Jogos da Commonwealth. Quando estava pesquisando sobre eles, descobri alguns outros que achei bem interessantes, como os Jogos Mundiais para Pessoas com Nanismo, os Jogos das Ilhas do Pacífico e os Jogos Árticos de Inverno, sobre os quais optei por não falar por pura falta de assunto, já que as informações sobre eles eram poucas. No caso dos Jogos Árticos de Inverno, porém, havia um diferencial: neles são disputados os esportes árticos, esportes tradicionais dos povos indígenas das regiões árticas, que, embora não sejam lá extremamente elaborados, são bastante interessantes. Eu guardei essa informação para o futuro e, hoje, decidi que vou falar sobre eles. Hoje é dia de esportes árticos no átomo!

Para quem não sabe, o ártico, diferentemente da Antártida, não é um continente - como uma professora minha uma vez disse, embaixo do gelo do polo sul tem terra, mas do polo norte só tem água. O que nós chamamos de ártico é a região dentro do Círculo Polar Ártico, que corta a América do Norte, a Europa e a Ásia, sendo que toda a sua porção asiática pertence à Rússia - outros países cortados pelo Círculo são Noruega, Suécia, Finlândia, Islândia, Estados Unidos, Canadá e Groenlândia. Os esportes árticos, portanto, são aqueles tradicionalmente praticados pelos povos indígenas desses países, principalmente os inuit (que hoje estão espalhados pelo Alasca, Canadá e Groenlândia) e os yamal (habitantes da região de Yamalo-Nenets, na Rússia); esportes praticados por outros povos originários do Canadá também costumam ser classificados como esportes árticos, embora sua denominação correta, por razões culturais, seja jogos dene, enquanto os dos demais povos originários da Groenlândia são chamados de kalaallit pinnguaataat.

A maioria dos esportes árticos tem suas origens em atividades do dia a dia como caça e pesca, tendo sido criados como treinamento para desenvolver a força, resistência e agilidade dos jovens caçadores e pescadores, que, talvez por isso ser da natureza humana, logo começariam a desenvolver regras para que pudessem competir e determinar quem era o melhor. No início, a maior parte dessas competições ocorria durante festivais, e eram feitas apenas para o entretenimento da tribo; apenas sob a influência dos europeus foi que elas se transformariam verdadeiramente em esportes, com o surgimento dos atletas profissionais - indivíduos que não eram caçadores ou pescadores, dedicando suas vidas a treinar para serem os melhores naqueles esportes.

A organização responsável por preservar, regular e difundir os esportes árticos se chama WEIO, da sigla em inglês para Olimpíadas Mundiais Indígenas Esquimós, embora esquimó seja uma palavra hoje considerada pejorativa, que vem caindo em desuso. A WEIO tem o mesmo nome de um torneio anual realizado desde 1961, que, além de competições esportivas, tem também concursos de dança, de contação de histórias, e até mesmo um concurso de beleza, apelidado Miss WEIO. As nove primeiras edições ocorreram como parte do festival Golden Days, e foram organizadas e patrocinadas pela Câmara de Comércio da Cidade de Fairbanks, no Alasca, com o nome de Olimpíadas Esquimós; o nome atual foi criado em 1970, quando o principal patrocinador passou a ser o jornal Tundra Times, e as mulheres passaram a poder também participar das competições esportivas, até então exclusivamente masculinas. Em 1976, seria criada a organização sem fins lucrativos chamada WEIO, que assumiu completamente a responsabilidade pelo torneio, incluindo financiamento, planejamento, escolha e preparação dos locais de competição e regras das competições.

Todas as edições foram realizadas em Fairbanks, exceto a de 2007, realizada em Anchorage, mas considerada cara demais para se manter anualmente, e a de 2020, cancelada por causa da pandemia; o programa esportivo conta apenas com esportes árticos, e somente integrantes ou descendentes dos povos indígenas do ártico podem participar, tanto das competições esportivas quanto das demais. Os Jogos começam sempre na terceira quarta-feira do mês de julho - durante o verão ártico, portanto - e sempre duram um total de quatro dias.

Atualmente, a WEIO reconhece 27 disciplinas dos esportes árticos, embora nem todas sejam disputadas em todas as edições das Olimpíadas Mundiais Indígenas Esquimós. Embora pareçam muitos, as regras de cada um são realmente simples, de forma que vai ser perfeitamente possível falar sobre todos nesse post. Eu imagino que eles devam ter nomes indígenas, mas eu vou usar aqui versões traduzidas para o português dos nomes em inglês que constam do regulamento da WEIO - já que os nomes indígenas, com uma ou outra exceção, eu não achei em lugar nenhum.

No chute alto com um pé, um alvo é pendurado a uma determinada altura, e o objetivo dos atletas é saltar tomando impulso com os dois pés, acertar o alvo com um chute diretamente para cima feito com um dos pés e aterrissar com o pé que chutou, sem perder o equilíbrio. Assim como no salto em altura do atletismo, a cada chute bem sucedido o alvo sobe alguns centímetros, e cada atleta tem três chances para alcançar cada altura, sendo eliminado se não conseguir, e o vencedor sendo o que restar após todos os demais terem sido eliminados. O atual recorde mundial é de 2,92 m.

O chute alto com os dois pés segue a mesma regra, mas o atleta tem que chutar o alvo com os dois pés simultaneamente, e aterrissar tocando os dois pés no chão ao mesmo tempo. O atual recorde é de 2,62 m.

Já no chute alto do Alasca, o atleta começa agachado no chão, equilibrado em um dos pés e segurando o outro. No início do salto, ele joga os pés para cima e toma impulso com a mão que estava livre. O objetivo é atingir o alvo com o pé no qual o atleta estava apoiado no início do movimento e aterrissar nesse mesmo pé sem perder o equilíbrio. É mais fácil de ver do que de explicar, mas absurdamente mais difícil de se fazer que os outros dois. O atual recorde é de 2,39 m.

No alcance com uma das mãos, o atleta começa equilibrado em uma das mãos, com o cotovelo junto ao corpo. O objetivo é tomar impulso e acertar o alvo com essa mão, que deve ser a primeira parte do corpo do atleta a tocar o chão quando ele descer. O atual recorde é de 1,78 m.

O chute de dedão consiste em vir correndo, saltar por cima de um bastão, tocar o bastão com os dedões de ambos os pés e aterrissar do outro lado com os dois pés ao mesmo tempo. Como de costume, a cada sucesso o bastão fica um pouco mais alto, e cada atleta tem três chances em cada altura. O atual recorde é de 1,58 m.

No salto ajoelhado, o atleta começa ajoelhado no chão, com ambas as mãos apoiadas nos joelhos. Ele deve saltar o mais longe possível e aterrissar em ambos os pés, sem perder o equilíbrio e com os pés separados na mesma distância dos ombros. Cada atleta tem três chances, e a maior distância vence. O atual recorde é de 1,72 m.

O salto triplo é parecido com o do atletismo: o atleta vem correndo, dá um salto, toma impulso novamente no meio do caminho, toma um terceiro impulso, e é contada a distância total percorrida do ponto do primeiro salto até o ponto de aterrissagem - a diferença é que, em cada um dos três saltos e na aterrissagem, os pés devem estar separados pela mesma distância dos ombros, com em todos os três saltos o atleta dando impulso com ambos os pés. O atual recorde é de 11,49 m.

O salto em tesoura é parecido, mas são quatro saltos, e em cada um deles o atleta só toma impulso com um dos pés, sendo requerido apenas na aterrissagem que se use ambos os pés na distância dos ombros. O nome do salto vem do fato de que cada um dos impulsos deve ser feito com um pé diferente do anterior - por exemplo, o primeiro e o terceiro com o pé direito, o segundo e o quarto com o esquerdo - o que faz com que o atleta mova as pernas como se fosse uma tesoura. O atual recorde é de 11,40 m.

No salto sobre trenós, dez trenós são arrumados em linha reta, com uma distância de 30 cm entre eles. O atleta vem correndo, salta sobre o primeiro trenó e então deve saltar sobre todos os seguintes em sequência. Após saltar sobre o décimo trenó, ele tem direito a um descanso de no mínimo 5 e no máximo 10 segundos antes de começar uma nova corrida e começar tudo de novo no sentido contrário. O atleta continua saltando até encostar em um dos trenós, quando o total de trenós que ele saltou será computado. Ao fim da competição, ganha quem tiver saltado mais trenós. Acreditem ou não, o atual recorde é de 830 trenós, obtido em 2006.

No avanço apoiado, o atleta começa em posição de flexão, com a barriga virada para baixo, mas apoiado nos dedos dos pés e nos nós dos dedos das mãos. O objetivo é tomar impulso para a frente, aterrissando nessa mesma posição, quantas vezes conseguir. Assim que o atleta toca o chão com qualquer parte do corpo que não seja os os dedos dos pés ou os nós dos dedos das mãos, sua distância total é computada, sendo vencedor o que chegar mais longe. O atual recorde é de 61,2 m.

O avanço da foca é quase igual, mas o atleta fica apoiado nas palmas das mãos e nos dedos dos pés. Diz a lenda que o nome é esse porque os caçadores, quando estavam caçando focas, avançavam assim na direção dos animais. O atual recorde é de 57,3 m.

No puxão de braço, dois atletas se sentam no chão de frente um para o outro com suas pernas esquerdas esticadas, a perna direita de um dobrada no joelho e passando por cima da perna esquerda do outro, seus braços direitos dobrados e entrelaçados pelos cotovelos e com a mão esquerda de cada um segurando no tornozelo direito do outro. A um sinal do árbitro, os atletas começam a puxar seus braços direitos, tentando derrubar o oponente ou fazer com que a mão do oponente encoste no seu peito - sendo proibido fazer força com as pernas. Um atleta que caia, se desentrelace ou toque no peito do outro com a mão é eliminado, com os vencedores avançando até que só reste o campeão.

No puxão de cabeça, dois atletas se deitam de bruços no chão, um olhando nos olhos do outro, e uma faixa de couro é usada para ligar suas cabeças, passando pela nuca de cada um. A um sinal do árbitro, os atletas se apoiam nas palmas das mãos e nos dedos dos pés, e, fazendo força apenas com o pescoço, sem poder usar as mãos ou pés, tentam puxar o oponente para a frente ou fazer com que a faixa saia de sua cabeça.

No puxão de orelha, dois atletas se sentam no chão de frente um para o outro, e um elástico é passado por trás da orelha direita de um e da orelha esquerda do outro. A um comando do árbitro, os atletas começam a puxar para trás com toda a força, tentando fazer o elástico sair de trás da orelha do oponente ou o oponente desistir devido à dor. Essa disciplina tem ficado de fora do programa da maioria das competições por ser considerada violenta - não é incomum as orelhas dos atletas sangrarem, precisarem de pontos, ou até mesmo um atleta perder a orelha durante uma competição.

No puxão de dedo, dois atletas se sentam no chão de frente um para o outro com os braços bem esticados e fazem um gancho com o dedo médio de cada mão, o dedo da mão esquerda de um atleta prendendo o da mão direita do outro. A um comando do árbitro, os atletas começam a puxar seus braços, tentando puxar o oponente para a frente ou fazer com que ele não consiga mais manter o gancho, soltando sua mão.

No puxão de bastão é usado um bastão de madeira de 1 m de comprimento, com os dois atletas, de pé e de frente um para o outro, segurando cada um em uma das pontas com ambas as mãos. Há uma linha traçada no chão, e, a um comando do árbitro, os dois começam a puxar como se fosse um cabo de guerra, visando fazer com que o oponente pise do seu lado da linha, ou com que o oponente solte o bastão.

Já no puxão de bastão dene, é usado um bastão de madeira de cerca de 30 cm de comprimento, besuntado em graxa - originalmente era usada gordura de urso, mas atualmente é usada graxa sintética. dois atletas ficam de pé de frente um para o outro com os braços bem esticados e seguram o bastão próximo ao meio com uma das mãos. A um sinal do árbitro, eles puxam com toda a força, tentando arrancar o bastão da mão do oponente - vence o embate quem estiver com a mão no bastão por último.

O puxão de bastão inuit é parecido, mas o bastão é mais longo, mais grosso, não é besuntado com graxa, e cada atleta o segura com as duas mãos na horizontal - um dos atletas segurando com suas duas mãos bem no centro, o outro com uma das mãos em cada ponta. O objetivo também é arrancar o bastão das mãos do oponente, sendo vencedor quem estiver com pelo menos uma das mãos em contato com ele por último.

Na disciplina chamada cobra da neve, o atleta tem de arremessar uma lança de madeira de 1 m de comprimento no gelo e fazê-la correr ao longo de um traçado pré-determinado. Outro dos esportes de origem dene, esse supostamente se originou na caçada ao caribu. O atual recorde é de 159,89 m.

Na peso de orelha, o atleta coloca em volta de uma de suas orelhas um anel de madeira que tem um peso de 1 kg pendurado. O objetivo é seguir um caminho pré-determinado pela maior distância possível antes de o peso cair ou um árbitro determinar que o peso não está sendo carregado corretamente. O atual recorde é de 84,64 m.

Na caminhar no pau de sebo, o atleta deve fazer exatamente isso, caminhar por sobre uma tábua de 10 cm de largura besuntada de graxa, ganhando aquele que conseguir percorrer a maior distância antes de cair. Diz a lenda que essa disciplina foi criada para treinar os caçadores a andar sobre o gelo. O atual recorde é de 3,96 m.

A disciplina chamada avião é disputada por equipes de quatro pessoas cada. Uma delas se deita no chão, de barriga para baixo, com as pernas juntas e os braços bem esticados para os lados. As outras três vão levantá-la do chão até a altura de suas cinturas, uma segurando cada braço e a outra segurando as pernas, e carregá-la pelo maior tempo possível sem que o atleta carregado saia da posição correta. O atual recorde é de 46,69 segundos.

Já a carregar pelo punho é disputada por equipes de três integrantes cada. É usado um bastão de madeira de 2 m de comprimento, com um dos integrantes da equipe se segurando firmemente com uma das mãos no centro do bastão, enquanto cada um dos outros segura com ambas as mãos em uma das pontas. Os dois integrantes das pontas devem erguer o bastão na altura dos ombros, e o que está segurando no centro deve dobrar os dois joelhos. O objetivo é carregar o bastão com o atleta pendurado pelo maior tempo possível sem que nenhuma parte do corpo dele toque o chão. O atual recorde é de 150,1 segundos - dois minutos e meio.

Na carregar com quatro homens, que servia para que os caçadores treinassem carregar os animais abatidos, são usadas equipes de quatro integrantes cada. Um deles será o carregador, enquanto os outros três vão se pendurar nele, passando os braços por seus ombros e dobrando os dois joelhos, um na frente, um no lado esquerdo e um no lado direito. O objetivo é carregar os colegas pelo maior tempo possível sem que nenhuma parte do corpo de nenhum deles encoste no chão. O atual recorde é de 187,2 segundos - pouco mais de três minutos.

No alcance de banco, o atleta se ajoelha num banco, e um assistente se senta sobre suas duas panturrilhas. O atleta, então, deve pegar um objeto de madeira que está no chão em frente ao banco, esticar seu corpo e colocá-lo dentro de um círculo traçado no chão. Atletas que deixem o objeto cair, antes ou depois de colocá-lo no chão, ou que toquem o chão com qualquer parte do corpo são eliminados, enquanto os que conseguem vão avançando para as rodadas seguintes até que só reste o vencedor. A cada rodada, o círculo vai ficando mais distante e o objeto vai ficando mais difícil, começando com um bloco e terminando com um cilindro da circunferência de um cabo de vassoura.

No arremesso de cobertor é usado um cobertor feito de couro de morsa, segurado por entre 40 e 50 voluntários. O atleta se posiciona sobre o cobertor, e é impulsionado para cima pelos movimentos dos voluntários. O objetivo é alcançar a maior altura possível e pousar com graça e leveza. O arremesso de cobertor normalmente é realizado como exibição, sem valer medalhas; ele tem origem no festival do Nalukataq, realizado anualmente pelo povo iñupiat, do norte do Alasca.

Finalmente, temos o chamado jogo de mão, disputado por duas equipes de seis integrantes cada, que se alternam entre a que vai esconder e a que vai adivinhar. Os integrantes de cada equipe se posicionam um ao lado do outro, ombro a ombro, e uma equipe fica de frente para a outra. Cada equipe possui dez varetas de madeira, e ambas compartilham um conjunto de "ossos" (atualmente peças de madeira), composto por dois pares, com cada par tendo um osso liso e um listrado. Após escolher qual equipe vai começar escondendo, são escolhidos dois membros da equipe, que devem ficar um ao lado do outro, e têm suas mãos cobertas por um cobertor de tecido. Cada um deles recebe um par de ossos, devendo colocar o liso em uma de suas mãos e o listrado na outra, fechando as mãos para que os oponentes não consigam ver qual osso está em cada mão. Tradicionalmente, enquanto os dois jogadores escolhidos estão escondendo, os demais integrantes da equipe cantam, batucam e fazem sons altos para distrair a outra equipe. Depois que os quatro ossos estiverem escondidos, o cobertor é removido, e um dos jogadores da equipe que está adivinhando deverá acertar onde estão os ossos lisos - devendo escolher entre quatro opções: ambos nas mãos direitas, ambos nas mãos esquerdas, ambos nas mãos de fora (a mão esquerda do jogador à esquerda e a direita do jogador à direita) ou ambos nas mãos de dentro (a mão direita do jogador à esquerda e a esquerda do jogador à direita). Se errar, a equipe que está adivinhando deve dar uma vareta para a equipe que está escondendo; se acertar, a equipe que está escondendo deve dar os ossos lisos para a que está adivinhando e fazer novamente o processo de esconder, agora com a outra equipe tendo de escolher em quais mãos estão os ossos listrados. Mais uma vez, se a equipe que está adivinhando errar, dá uma vareta para a outra, e, se acertar, recebe os ossos listrados. Uma vez que ambos os pares de ossos tenham mudado de equipe, os papéis se alternam, com a equipe que estava adivinhando tendo de esconder e a outra tendo de adivinhar. O jogo prossegue até que uma mesma equipe esteja de posse das vinte varetas de madeira, quando será a vencedora.

Nas primeiras edições das Olimpíadas Mundiais Indígenas Esquimós também eram disputadas competições de eventos que não são considerados esportes árticos, como limpar peixe, pelar foca ou quem consegue comer mais maktaks - cubos de gordura de baleia. Nas duas primeiras edições dos Jogos Árticos de Inverno também foi disputada uma disciplina que a WEIO não reconhece como esporte ártico, o curvar para trás, na qual o atleta se posiciona de pé, com as pernas bem abertas e os pés bem paralelos, segurando um bastão (que era um cabo de vassoura ou taco de hóquei no gelo sem a lâmina), e deve se curvar para trás, tocar a ponta do bastão no chão atrás dele e retornar à posição inicial, mantendo ambas as solas dos pés em contato com o chão em todos os momentos.

Também vale dizer que, desde 2010, é disputado anualmente na Groenlândia um torneio chamado Nunatsinni Unammersuarneq, de grande popularidade, com cobertura extensiva da KNR, o canal de TV público de lá. Aberto à participação apenas de atletas groenlandeses, o torneio conta em seu programa com provas de chute alto com um dos pés, chute alto com os dois pés, chute alto do Alasca, salto ajoelhado, salto triplo, alcance com uma das mãos, e de uma variação do chute alto chamada angakkuusaarneq, na qual o atleta se senta com os joelhos dobrados e passa uma faixa de couro por trás dos joelhos e por seu pescoço; após se apoiar nas duas mãos e tirar o quadril do chão, o atleta deve fazer um movimento parecido com um pêndulo, que faz com que ele tome impulso e acerte o alvo com ambos os pés.

Outros esportes não oficiais incluem o empurrão do boi, no qual dois atletas ficam dentro de um círculo em quatro apoios, com as palmas das mãos e os joelhos tocando o chão, encaixados de forma que a cabeça de um fique embaixo do braço direito do outro, e devem se empurrar, com o objetivo de fazer o oponente sair do círculo; o empurrão de costas, no qual dois atletas se sentam no círculo um de costas para o outro, com as pernas esticadas, a mão direita no meio das pernas e a esquerda ao lado da perna esquerda, as costas se tocando, e devem se empurrar sem dobrar os joelhos, para tirar o oponente do círculo; a luta de pernas, na qual dois atletas deitam no chão com as pernas entrelaçadas e um segurando as mãos do outro, com o objetivo de fazer o oponente tirar as costas do chão; e o salto de bastão, no qual o atleta segura um bastão com ambas as mãos e, sem soltá-lo, deve pular por cima dele, aproximando as mãos 5 cm do centro a cada salto bem sucedido.

Agora vamos falar um pouco sobre os Jogos Árticos de Inverno, que não são organizados pela WEIO, e sim por uma organização chamada AWGIC - da sigla em inglês para Arctic Winter Games International Corporation, a Corporação Internacional dos Jogos Árticos de Inverno. A ideia de criar o torneio partiu de Cal Miller, capitão da delegação da Província de Yukon nos Jogos Canadenses de Inverno de 1967; os Jogos Canadenses são uma espécie de mini-Olimpíada disputada a cada dois anos justamente desde 1967, alternando entre Jogos de Inverno e Jogos de Verão, nos quais as delegações representam as províncias e territórios do Canadá. Achando que os atletas do norte tinham desvantagem em relação aos do sul por causa das condições pouco apropriadas para a prática esportiva nas regiões onde eles moravam, e insatisfeito porque as Olimpíadas Mundiais Indígenas Esquimós contavam em seu programa apenas com esportes árticos, Miller se reuniria com o Comissário dos Territórios do Noroeste, Stuart M. Hodgson, o Comissário de Yukon, James Smith, e o Governador do Alasca, Walter J. Hickel, e proporia a criação de um torneio multiesportivo realizado a cada dois anos, sempre em uma cidade-sede dentro do Círculo Polar Ártico, com as delegações representando os diferentes povos da região.

Com tudo acertado, em 1969 Miller fundaria a AWGIC, uma entidade privada sem fins lucrativos que ficaria responsável pela organização dos Jogos Árticos de Inverno. A primeira edição dos Jogos seria realizada em 1970, na cidade de Yellowknife, Territórios do Noroeste, Canadá, e contaria com a presença de três delegações - Territórios do Noroeste, Yukon e Alasca - que totalizariam cerca de 500 atletas, que competiriam em dez esportes: badminton, basquete, boxe, curling, esqui cross-country, hóquei no gelo, patinação artística, tiro esportivo, tênis de mesa e vôlei, com os esportes árticos sendo esportes de demonstração. Os esportes árticos seriam novamente esportes de demonstração na segunda edição, em 1972, mas entrariam para o programa principal na terceira, em 1974, que foi a última a ter um esporte de demonstração - a natação.

Os Jogos seriam realizados a cada dois anos, sempre nos anos pares, até 2018; a edição de 2020 seria cancelada por causa da pandemia, e a de 2022 acabaria adiada em um ano por problemas logísticos, mas a próxima está mantida para 2024 e a cada dois anos a partir de então. Como o nome diz, os Jogos Árticos de Inverno são sempre realizados durante o inverno, no início do mês de fevereiro - a última edição, de 2023, foi realizada entre 29 de janeiro e 4 de fevereiro. Até o ano 2000, todas as edições seriam sediadas pelo Canadá ou pelos Estados Unidos, mas, desde 2002, duas edições foram sediadas pela Groenlândia. As cidades canadenses que já sediaram os Jogos Árticos de Inverno foram Yellowknife (1970, 1984, 1990, 1998 e 2008), Whitehorse (1972, 1980, 1986, 1992, 2000 e 2012), Schefferville (1976), Hay River (co-sede com Pinepoint em 1978 e com Fort Smith em 2018), Pinepoint (co-sede com Hay River em 1978), Slave Lake (1994), Iqaluit (co-sede com Nuuk em 2002), Wood Buffalo (2004 e 2023), Grande Prairie (2010) e Fort Smith (co-sede com Hay River em 2018). Nos Estados Unidos, as sedes foram Anchorage (1974), Fairbanks (1982, 1988 e 2014), Chugiak e Eagle River (co-sedes em 1996) e Kenai (2006) - todas essas cidades ficam no Alasca, único estado dos Estados Unidos cortado pelo Círculo Polar Ártico. A única cidade-sede da Groenlândia foi Nuuk, co-sede em 2002 com a canadense Iqaluit e sozinha em 2016.

Atualmente, os Jogos Árticos de Inverno são disputados por oito delegações: Territórios do Noroeste (Canadá), Yukon (Canadá), Alasca (EUA, essas três desde 1970), Nunavik (a porção norte da província canadense de Quebec, desde 1974), Norte de Alberta (Canadá, desde 1986), Groenlândia (desde 1990), Nunavut (Canadá, desde 2000, até 1999 fazia parte dos Territórios do Noroeste) e Sápmi (delegação composta por povos indígenas do norte da Finlândia, Noruega e Suécia, desde 2004). Em 1992, participou uma delegação composta por vários povos indígenas do norte da Rússia, que depois se separou nas delegações de Magadan (que participou entre 1994 e 2004) e Tyumen (entre 1994 e 1998). Outras delegações representando províncias russas foram as de Chukotka (que participou em 2000 e 2002) e Yamalo-Nenets (que participa desde 2004, mas foi proibida de participar em 2023 e 2024 por causa da suspensão da Rússia de todas as competições esportivas após a invasão da Ucrânia).

O programa esportivo da edição de 2024, prevista para ocorrer entre 10 e 16 de março do ano que vem na cidade de Matanuska Susitna (carinhosamente apelidada de Mat-Su), no Alasca, Estados Unidos, conta com 20 esportes: badminton (que faz parte do programa desde 1970), basquete (desde 1970, exceto em 1984), biatlo (desde 2004, também disputado em 1974 e de 1986 a 2000), biatlo com sapatos de neve (desde 2004, também disputado entre 1978 e 1996 e em 2000), corrida com sapatos de neve (desde 1974), curling (desde 1970, exceto em 2016), esportes árticos (demonstração em 1970 e 1972, no programa principal desde 1974), esqui alpino (também disputado em 1972, 1994, 1996, de 2000 a 2006 e de 2010 a 2016), esqui cross-country (desde 1970), futsal (desde 2016), ginástica (desde 2018, também disputado em 1974, 1982 e entre 1986 e 2014), hóquei no gelo (desde 1970), jogos dene (desde 1990), luta livre (desde 1990, também disputado entre 1972 e 1980), patinação artística (desde 1970, exceto em 2002 e 2016), patinação no gelo em pista curta (desde 2018, também disputado entre 1984 e 1988 e entre 1994 e 2014), snowboarding (desde 2000), tênis de mesa (desde 2002, também disputado entre 1970 e 1982 e entre 1994 e 1998), tiro com arco (também disputado em 1974 e 2023) e vôlei (desde 1970). Fizeram parte do programa no passado o boxe (1970 e 1974), broomball (1988), corrida de trenó canino (entre 1990 e 2014 e em 2018), esqui estilo livre (2010), futebol indoor (entre 1980 e 2014), judô (entre 1972 e 1982), natação (demonstração em 1974), tiro esportivo (entre 1970 e 1998) e triatlo de inverno (entre 1984 e 1990).
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domingo, 27 de novembro de 2022

Escrito por em 27.11.22 com 0 comentários

Parapan / Paracommonwealth

Lá no início do ano, quando eu fiz os posts sobre os Jogos Panamericanos e os Jogos da Commonwealth, pensei em falar também sobre suas versões voltadas aos atletas com deficiência, mas, como ambos os posts acabaram ficando grande demais, e eu já tinha pensado em fazer um no mesmo estilo sobre as Paralimpíadas, decidi que falaria sobre esses torneios quando falasse sobre as Paralimpíadas. Só que o post das Paralimpíadas também ficou grande demais, e eu decidi que faria um separado sobre as Paralimpíadas de Inverno; assim, os outros dois torneios paralímpicos ficariam faltando de novo a menos que eu resolvesse fazer posts separados pra eles também. Para economizar, resolvi juntar os dois em um post só. Que é esse que vocês lerão hoje.

Vamos começar por aquele que é mais antigo, e que hoje já não existe, os Jogos Paraplégicos da Commonwealth, versão paralímpica dos Jogos da Commonwealth, sobre os quais eu falei em março. Os Jogos Paraplégicos da Commonwealth foram criados pelo Dr. George Bedbrook, responsável pela ala de paraplégicos do Royal Perth Hospital, amigo do Dr. Ludwig Guttman, e responsável pela introdução do esporte paralímpico na Austrália. Quando Perth foi escolhida como sede dos Jogos da Commonwealth de 1962, o Dr. Bedbrook apresentou ao comitê organizador local o planejamento para um torneio nos mesmos moldes dos Jogos de Stoke Mandeville, mas apenas com a participação de países filiados à CGF, o órgão responsável pelos Jogos da Commonwealth. A proposta foi aceita, e os membros da CGF foram oficialmente convidados; para todos os efeitos, porém, o torneio não teria o envolvimento da CGF, ficando a cargo de uma comissão reunida pelo Dr. Bedbrook e do comitê organizador local.

O presidente dessa comissão seria Hugh Leslie, amputado de uma perna, membro do Parlamento australiano e defensor do esporte como forma de reabilitação para pessoas com deficiência. Para convencer os países a participar, ele faria uma lei segundo a qual o governo australiano pagaria todos os custos das delegações, incluindo as passagens aéreas e o transporte em solo australiano; essa lei seria controversa porque muitos acreditaram que ela poderia impactar a realização dos Jogos da Commonwealth, mas o público dos Jogos Paraplégicos da Commonwealth surpreendentemente seria tão bom que o evento daria lucro para o governo australiano, mesmo com a ajuda de custo. Infelizmente, como na época o esporte paralímpico ainda não era muito difundido, e a Austrália ficava muito longe, o que representava uma longa viagem mesmo com a ajuda de custo, apenas nove delegações se animaram a enviar atletas; por outro lado, Leslie conseguiria um contrato inédito para transmissão por rádio e TV de quase todo o programa, com australianos e neozelandeses podendo acompanhar as provas ao vivo, e os europeus tendo acesso a vários VTs.

Os I Jogos Paraplégicos da Commonwealth, nome também criado pelo Dr. Bedbrook, seriam realizados em Perth entre 10 e 17 de novembro de 1962, terminando cinco dias antes do início dos Jogos da Commonwealth. Participariam 93 atletas, sendo 21 mulheres, de 9 delegações, competindo em 88 provas de 10 esportes: atletismo, basquete em cadeira de rodas, dartchery, esgrima em cadeira de rodas, levantamento de peso, natação, pentatlo, sinuca, tênis de mesa e tiro com arco. Assim como nos Jogos de Stoke Mandeville e nas Paralimpíadas da época, todos os esportes foram disputados exclusivamente por cadeirantes. Muitos atletas competiriam em vários esportes diferentes, como o australiano Frank Ponta, que competiu na natação, esgrima, basquete e pentatlo (cujas cinco provas eram tiro com arco, natação 50 m Crawl, arremesso de bastão, arremesso de peso e lançamento de dardo); isso ocorreu porque as delegações priorizaram atletas que praticassem mais de um esporte, para que tivessem um tamanho reduzido. No quadro de medalhas, a Austrália anfitriã viria em primeiro, com a Inglaterra em segundo, e então Rodésia, Escócia, Nova Zelândia, País de Gales e Índia; somente Irlanda do Norte, que só enviou dois atletas, e Cingapura, que só enviou um, ficaram sem medalhas, com todos os outros conseguindo pelo menos uma medalha de ouro. O melhor desempenho seria o da Rodésia, que ganharia 23 medalhas, sendo 15 de ouro, com apenas 4 atletas.

Diferentemente das Paralimpíadas de 1960, os Jogos Paraplégicos da Commonwealth de 1962 não usariam as mesmas instalações dos Jogos da Commonwealth do mesmo ano, exceto pela natação, já que o Beatty Park, construído para os Jogos da Commonwealth, era o único local da cidade adequado para a realização das provas. A ideia inicial era que as demais provas fossem realizadas no Shenton Park, um anexo do Ryal Perth Hospital, mas ela logo seria abandonada por falta de locais próximos para acomodação dos atletas. Todas as competições, exceto a já citada natação, acabariam sendo realizadas no Royal Agricultural Showground, no subúrbio de Claremont, que contava com duas vantagens: locais para acomodação de todos os atletas e todos os locais de competição sendo planos, sem a necessidade de que os atletas subissem rampas ou escadas. O Royal Agriculture Showground não contava com uma quadra de basquete, o que foi resolvido com a montagem de uma quadra completa, com piso de madeira profissional, sobre a areia de uma das arenas de exibição, em frente a uma gigantesca arquibancada. A prefeitura de Perth faria um acordo com as companhias de táxi e de carros de aluguel da cidade, para que eles transportassem gratuitamente os atletas que fossem competir no Beatty Park; o trajeto entre o aeroporto e os locais de acomodação seria feito por ônibus do Royal Perth Hospital e da Cruz Vermelha, com um caminhão sendo alugado apenas para levar as cadeiras de rodas.

A primeira edição dos Jogos Paraplégicos da Commonwealth foi considerada um grande sucesso, responsável por mudar a forma como o público australiano via não somente os atletas com deficiência, mas as pessoas com deficiência em geral. O público superaria até o dos tradicionais Jogos de Stoke Mandeville, surpreendendo o Dr. Guttman, que esteve presente em todos os dias de competição. O evento também seria apontado como fundamental para o desenvolvimento do esporte paralímpico australiano, e faria com que o Dr. Bedbrook se tornasse membro da ISMGF, a organização que, na época, era responsável pelos Jogos de Stoke Mandeville e pelas Paralimpíadas; em 1964, logo após as Paralimpíadas de Tóquio, ocorreria uma reunião na qual o número de membros da ISGF aumentaria bastante, com o Dr. Bedbrook conseguindo convencer quatro outras nações, além da Austrália, a se filiar.

O sucesso da primeira edição motivaria a CGF a ela mesma organizar uma segunda, em Kingston, capital da Jamaica. Os II Jogos Paraplégicos da Commonwealth começariam exatamente no dia seguinte ao encerramento dos Jogos da Commonwealth de 1966, também realizados em Kingston, ocorrendo entre 14 e 20 de agosto; o atletismo e a natação seriam disputados nas mesmas instalações dos Jogos, o Estádio Nacional e a Universidade das Índias Ocidentais, mas os demais esportes não, com inclusive a esgrima, o levantamento de peso e o tênis de mesa sendo disputados no mesmo complexo onde os atletas ficaram hospedados, em Mona. Participariam 94 atletas, sendo 22 mulheres, de 10 delegações, que competiriam em 120 provas de 10 esportes, os mesmos da edição anterior, e, mais uma vez, exclusivamente para cadeirantes. No quadro de medalhas, a primeira seria a Inglaterra, e depois, na ordem, viriam Austrália, Escócia, Jamaica, Irlanda do Norte, Nova Zelândia, Fiji, País de Gales, Trinidad e Tobago e Canadá; dessa vez, todos os participantes ganhariam pelo menos uma medalha, mas somente os sete primeiros ganhariam pelo menos um ouro.

Infelizmente, a segunda edição dos Jogos Paraplégicos da Commonwealth não seria um sucesso como a primeira. Sem a ajuda de custo, a Rodésia, maior sensação da primeira edição, decidiria não participar; os atletas tiveram dificuldade para sair dos alojamentos e chegar aos locais de competição; não houve cobertura de rádio ou TV, e a cobertura da imprensa escrita foi mínima; e o público não se animou, sendo baixo em todas as competições. Ainda assim, o evento já estava estabelecido no calendário da CGF, de forma que os III Jogos Paraplégicos da Commonwealth foram programados para 1970, em Edimburgo, Escócia. Assim como a edição anterior, essa começaria exatamente no dia seguinte ao encerramento dos Jogos da Commonwealth, ocorrendo entre 26 de julho e 1 de agosto.

Em termos de participação, a terceira edição ganharia mais de uma centena de atletas: ao todo, seriam 197, incluindo 52 mulheres, mais uma vez todos cadeirantes, representando 14 delegações em 150 provas de 11 esportes - o levantamento de peso ficaria de fora, mas estreariam o tiro esportivo e os lawn bowls. Os atletas seriam acomodados em alojamentos do Ministério da Defesa no subúrbio de Turnhouse, e contariam com 14 ônibus adaptados dirigidos por voluntários para pegá-los e levá-los aos locais de competição e ao aeroporto. Quase todos os esportes usariam instalações dos Jogos da Commonwealth, como a Royal Commonwealth Pool, da natação, a Redcraig Shooting Range, do tiro esportivo, o Lochend Bowling Green, dos lawn bowls, e o complexo do Meadowbank Stadium, onde seriam disputados todos os outros; somente o dartchery e a prova de lançamento de dardo em precisão do atletismo seriam disputados no próprio local dos alojamentos dos atletas. No quadro de medalhas, o Top 6 seria composto por Inglaterra, Austrália, Escócia, Jamaica, Nova Zelândia e País de Gales; Irlanda do Norte, Uganda, Índia e Trinidad e Tobago ganhariam pelo menos uma medalha de ouro cada; Malta e Malásia, ambas em sua primeira participação, ganhariam pelo menos uma prata, e somente o Canadá (que na edição anterior só ganhou um bronze) e Hong Kong ficariam sem medalhas.

Apesar de todo o esmero da organização e do aumento no número de atletas e de delegações, mais uma vez o interesse do público seria baixo, com várias provas contando com enormes "buracos" nas arquibancadas. A BBC e a ITV ficariam responsáveis pela transmissão em rádio e TV, mas seriam criticadas pelo baixo número de eventos transmitidos ao vivo e pela falta de boletins diários dos resultados das competições. Mas o pior, na opinião da CGF, foi que o evento ganhou o apelido, na boca do povo e mais tarde na imprensa britânica, de The Little Games ("Os Pequenos Jogos"), algo que o órgão considerava inconcebível; após muitos protestos, a imprensa deixaria de usar o apelido, mas, talvez porque Jogos Paraplégicos da Commonwealth era um nome muito comprido, passaria a chamar o evento de Wheelchair Games, os "Jogos em Cadeira de Rodas".

O golpe de misericórdia para os Jogos Paraplégicos da Commonwealth ocorreria na edição de 1974: nesse ano, os Jogos da Commonwealth ocorreriam em Christchurch, na Nova Zelândia, que alegou não ser capaz de sediar ambos os eventos. Após muita negociação, a CGF conseguiria que os Jogos Paraplégicos fossem sediadas por outra cidade neozelandesa, Dunedin, mas, por motivos de logística, assim como na primeira edição, os Jogos Paraplégicos seriam realizados antes dos Jogos da Commonwealth. Esse seria o evento mais esvaziado de todos, com baixíssimo público e praticamente sem cobertura nenhuma da imprensa; a prefeitura de Dunedin, pelo menos, se esforçaria para diminuir as dificuldades de transporte dos atletas, alojando-os na Universidade de Otago, onde ocorreriam grande parte das competições, e fornecendo ônibus adaptados para transportá-los para os demais locais, como o Caledonian Sports Ground, a Moana Pool e o Logan Park. Paralelamente às competições, ocorreria uma mostra de artes e artesanato dos participantes no Otago Museum.

Os IV Jogos Paraplégicos da Commonwealth seriam realizados em Dunedin entre 13 e 19 de janeiro, se encerrando cinco dias antes do início dos Jogos da Commonwealth em Christchurch. Competiriam 229 atletas, sendo 54 mulheres, mais uma vez todos cadeirantes, representando 13 delegações em 150 provas de 12 esportes - com o levantamento de peso retornando ao programa. Essa seria a primeira e única edição a contar com a presença de Participantes Independentes, três atletas nascidos em países que não eram da Commonwealth, mas moravam e treinavam na Nova Zelândia, e competiram sob a bandeira da CGF a convite do comitê organizador local. Como era comum nos Jogos Paraplégicos da Commonwealth, a maioria dos atletas competiu em mais de um esporte; dessa vez, o maior destaque foi a inglesa Caz Bryant, que competiu no atletismo, pentatlo, tênis de mesa e esgrima, e, sozinha, ganhou 5 ouros, uma prata e um bronze. A Austrália voltaria ao topo do quadro de medalhas, mas teria apenas um ouro a mais que a Inglaterra, segunda colocada. A Nova Zelândia anfitriã viria em terceiro, seguida por Jamaica, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales, todos esses ganhando pelo menos um ouro. Os participantes independentes ganhariam duas pratas e um bronze; Hong Kong, Quênia e Malásia ganhariam pelo menos uma prata, Cingapura ganharia só um bronze, e Fiji e Índia ficariam sem medalhas - curiosamente, no quadro de medalhas geral, considerando as quatro edições do evento, não há delegação sem medalha nenhuma.

Após a edição de 1974, Bedbrook, que era presidente do comitê da CGF responsável pelos Jogos Paraplégicos da Commonwealth, recomendaria seu cancelamento, alegando falta de interesse do público e da imprensa, e temendo que, no futuro, as cidades-sede dos Jogos da Commonwealth fizessem como Christchurch e não quisessem sediar Jogos Paraplégicos, o que faria com que o evento fosse cada vez mais esvaziado - um dos fatores que motivou esse temor foi que os Jogos da Commonwealth de 1978 seriam realizados no Canadá, país que nunca teve bons resultados nos Jogos Paraplégicos.

Após o cancelamento dos Jogos Paraplégicos da Commonwealth, Bedbrook passaria a defender a inclusão de provas paralímpicas nos Jogos da Commonwealth; ele faleceria em 1991, aos 70 anos, e não veria isso acontecer: em 1994, seis provas, sendo duas do atletismo, duas da natação e duas dos lawn bowls, seriam incluídas como esportes de demonstração nos Jogos da Commonwealth, e, em, 2002, provas do atletismo, natação e tênis de mesa seriam incluídas como parte do programa, com os atletas com deficiência dividindo alojamentos e locais de competição com atletas sem deficiência, e suas medalhas contando para o quadro normalmente, o que se tornaria praxe nas edições seguintes. Na última edição dos Jogos da Commonwealth, em 2022, fizeram parte do programa provas paralímpicas do atletismo, natação, lawn bowls, powerlifting, ciclismo, tênis de mesa e triatlo, o que faz com que os Jogos da Commonwealth sejam considerados o torneio multiesportivo mais inclusivo do planeta.

Vamos passar agora para os Jogos Parapanamericanos. A primeira vez em que se realizou um torneio multiesportivo para atletas com deficiência com a participação de vários países das Américas foi em 1967, em Winnipeg, no Canadá, quando, entre 8 e 12 de agosto, 161 atletas cadeirantes de 7 países (Canadá, Estados Unidos, México, Argentina, Jamaica, Peru e Trinidad e Tobago) competiram em 38 provas de 10 esportes: atletismo, basquete em cadeira de rodas, dartchery, levantamento de peso, natação, sinuca, tênis de mesa, tiro com arco, tiro esportivo e vôlei sentado. Esse torneio ficaria conhecido como Jogos Paraplégicos Panamericanos, e seria organizado pela Associação Canadense de Esportes para Cadeirantes (CPA), que, inspirada nas Paralimpíadas e nos Jogos Paraplégicos da Commonwealth, que já haviam tido duas edições cada, planejava criar uma competição panamericana para cadeirantes, que seria realizada a cada quatro anos, sempre junto com os Jogos Panamericanos.

Apesar do pouco tempo para organizar o evento, já que começaria seus preparativos apenas em setembro de 1966, a CPA seria extremamente bem sucedida, conseguindo autorização para usar as mesmas instalações do Pan, que ocorreu em 1967 também em Winnipeg, com os Jogos Paraplégicos Panamericanos começando dois dias após a cerimônia de encerramento do Pan. Essa primeira edição do evento foi considerada um grande sucesso em termos de público e participação dos atletas, mas, infelizmente, dois fatores contribuíram para que o plano de que os Jogos Paraplégicos Panamericanos ocorressem sempre junto aos Jogos Panamericanos falhasse: a falta de um órgão centralizado para organizá-lo e a falta de associações voltadas ao esporte para deficientes nas Américas - já a edição seguinte do Pan, por exemplo, seria realizada na Colômbia, país no qual o esporte para deficientes ainda estava em formação. Por causa disso, os torneios panamericanos para atletas com deficiência eram realizados "quando dava", sem nenhuma ligação com o Pan, e apenas em sedes dispostas a abrigá-los - entre 1968 e 1994, seriam realizados nove desses torneios, nenhum deles recebendo destaque na imprensa.

Com a fundação do Comitê Paralímpico Internacional (IPC), em 1989, houve uma esperança de que a ideia dos Jogos Paraplégicos Panamericanos finalmente pudesse vingar, mas agora tendo em seu programa esportes voltados a atletas com diferentes tipos de deficiência, como ocorria com as Paralimpíadas. Mas essa ideia ainda esbarraria no fato de que, quase dez anos após a fundação do IPC, a maioria dos países das Américas ainda não tinha estabelecido seus comitês paralímpicos nacionais - quase todos eles, inclusive, só tinham federações esportivas que regulavam esportes para cadeirantes ou deficientes visuais, ficando os demais atletas com deficiência sem ter como competir. Uma das exceções era a Argentina, que, aproveitando que os Jogos Panamericanos de 1995 aconteceriam em seu solo, na cidade de Mar del Plata, aproveitaria para organizar também três torneios voltados para atletas com deficiência: os Jogos Panamericanos em Cadeira de Rodas, em setembro, e os Jogos Panamericanos para Cegos, em novembro, ambos em Buenos Aires, e os Jogos Panamericanos dos Deficientes, também em Mar del Plata, mas em dezembro, enquanto os Jogos Panamericanos haviam sido realizados em março.

Durante os Jogos Panamericanos dos Deficientes, dirigentes da Argentina, México e Estados Unidos decidiriam unir forças e convidariam os demais comitês paralímpicos já estabelecidos nas Américas, dentre eles o Brasil, para uma reunião na cidade de Atlanta, Estados Unidos, que ocorreria dois anos depois, em 1997. Nessa reunião seria fundado o Comitê Paralímpico das Américas (APC), que ficaria responsável por incentivar e auxiliar na fundação dos demais comitês paralímpicos nacionais das Américas. Trabalhando em conjunto com o IPC e a ODEPA, o APC também conseguiria marcar a primeira edição dos Jogos Parapanamericanos para dali a dois anos, em 1999, ano que também teria uma edição dos Jogos Panamericanos, ficando estabelecido que, assim como as Olimpíadas e Paralimpíadas, os Jogos Panamericanos e Jogos Parapanamericanos seriam realizados sempre no mesmo ano - finalmente cumprindo o que a CPA havia tentado realizar trinta anos antes.

Nessa mesma reunião também seria escolhido o primeiro Presidente do APC, o argentino José Luis Campo, que comandaria a entidade de 1997 a 2005, quando seria substituído pelo brasileiro Andrew Parsons. Parsons seria presidente do APC somente entre 2005 e 2009, quando decidiria se candidatar à presidência do Comitê Paralímpico Brasileiro, cargo que ocupou de 2009 a 2017, quando se elegeu presidente do IPC. No APC, Parsons seria sucedido pelo colombiano Octavio Londoño, que também ficaria apenas por quatro anos, com Campo assumindo o cargo novamente em 2013. Campo faleceria de repente em 2017, tendo um ataque cardíaco fulminante enquanto participava de uma caminhada para arrecadar fundos para organizações que auxiliavam crianças com câncer, e seria substituído interinamente pela norte-americana Julie Dussliere, que acabaria ficando no cargo até 2019, quando seria escolhido o atual presidente, o colombiano Julio César Ávila Sarria.

Os Jogos Panamericanos de 1999 ocorreriam em Winnipeg, Canadá, mas o APC decidiria realizar os I Jogos Parapanamericanos na Cidade do México, entre 4 e 14 de novembro, começando quase três meses depois do encerramento do Pan. Participariam por volta de mil atletas, representando 18 nações em 378 provas de 4 esportes: atletismo, basquete em cadeira de rodas, natação e tênis de mesa. O Brasil teria como maior destaque Ádria Santos, 3 ouros no atletismo, e se sairia muito bem, terminando na segunda posição do quadro de medalhas com 92 ouros, 55 pratas e 33 bronzes. O México anfitrião ficaria no topo, e o restante do Top 5 seria formado por Argentina, Estados Unidos e Cuba. Dos 18 países participantes, 15 ganhariam pelo menos uma medalha - e todos os 15 ganhariam pelo menos uma de ouro - somente voltando para casa de mãos vazias Barbados, Honduras e Panamá.

A edição seguinte dos Jogos Panamericanos, em 2003, ocorreria em Santo Domingo, República Dominicana, que foi procurada pelo APC para sediar também o Parapan, mas diria não ter interesse. Campo, então, arranjaria para que os II Jogos Parapanamericanos fossem realizados em Mar del Plata, inclusive usando algumas das instalações do Pan de 1995, reformadas especialmente para o evento. O Parapan de 2003 ocorreria entre 29 de novembro e 10 de dezembro, começando mais de três meses após o término do Pan, e mais uma vez contaria com a presença de cerca de mil atletas, que representariam 28 nações em 303 provas de 9 esportes - estreariam bocha, ciclismo, equitação, esgrima em cadeira de rodas, tênis em cadeira de rodas e vôlei sentado, mas o tênis de mesa ficaria de fora; curiosamente, o número de esportes aumentou, mas o de provas diminuiu, já que a primeira edição contou com muito mais provas de atletismo e natação que a segunda. O topo do quadro de medalhas ficaria mais uma vez com o México; o Brasil terminaria mais uma vez na segunda posição, com 81 ouros, 53 pratas e 31 bronzes, e o Top 5 se completaria com a anfitriã Argentina, Venezuela e Canadá, com os Estados Unidos vindo apenas em sexto. Ádria Santos conquistaria um ouro e uma prata, mas os dois maiores destaques do Brasil viriam da natação: Fabiana Sugimori ganharia 5 ouros, e Clodoaldo Silva, 4 ouros e 1 prata.

O Brasil sempre foi um grande incentivador dos esportes para deficientes, e, quando o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar os Jogos Panamericanos de 2007, Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Organizador, prontamente negociou com o APC um acordo para que não somente os III Jogos Parapanamericanos ocorressem também no Rio de Janeiro, mas também para que o Parapan usasse as mesmas instalações do Pan, inclusive com os atletas ficando hospedados na Vila Panamericana, que foi construída para ser totalmente acessível e inclusiva, e ambos os eventos fossem realizados em datas bem próximas, para manter o interesse do público - o Pan seria realizado entre 13 e 29 de julho, o Parapan entre 12 e 19 de agosto. Parsons, já em campanha para a presidência do APC, e Nuzman também costurariam um acordo entre o APC e a ODEPA, segundo o qual, a partir da edição de 2007, cada cidade escolhida para sediar o Pan automaticamente também se tornaria sede do Parapan, só podendo se candidatar se concordasse em sediar ambos os eventos.

O entusiasmo dos brasileiros era tanto que o comitê organizador do Parapan criou até mesmo o revezamento da Tocha Parapanamericana, que não aconteceu nem em 1999, nem em 2003 - o revezamento da Tocha Panamericana ocorre desde a primeira edição, em 1951, com o fogo sendo aceso em uma cerimônia azteca na Pirâmide do Sol, no México (exceto em 1963, quando o Pan foi realizado em São Paulo e o fogo foi aceso em Brasília por indígenas guaranis) e levado em revezamento até a cidade-sede. A primeira Tocha Parapanamericana foi acesa no Aterro do Flamengo, no próprio Rio de Janeiro, na Chama Eterna, um fogo que queima permanentemente no local representando o sacrifício dos combatentes que morreram durante a Segunda Guerra Mundial, no próprio dia da Cerimônia de Abertura do Parapan de 2007, e seu revezamento durou apenas 20 km; desde então, ficaria acertado que, ao contrário do que ocorre com a Tocha Panamericana (e com a Tocha Olímpica, que sempre é acesa na Grécia), cada país-sede pode escolher em qual lugar vai acender sua Tocha Parapanamericana, bem como definir livremente o trajeto de seu revezamento.

O Parapan de 2007 contou com a participação de 1115 atletas representando 25 nações em 254 provas de 10 esportes - bocha, ciclismo, equitação e esgrima em cadeira de rodas seriam removidos, mas o tênis de mesa retornaria, e estreariam futebol de cinco, futebol de sete, judô e powerlifting. O Brasil chegaria o topo do quadro de medalhas para não mais sair, com 83 ouros, 68 pratas e 77 bronzes, mais que o dobro de pódios do segundo colocado Canadá, 228 a 112; o restante do Top 5 contaria com Estados Unidos, México e Cuba. Os maiores destaques do Brasil viriam mais uma vez da natação: Daniel Dias, oito ouros em oito provas disputadas, e Clodoaldo Silva, sete ouros e sete recordes mundiais, além de uma prata. Ainda na natação, André Brasil ganharia seis ouros, uma prata e um bronze, e Fabiana Sugimori ficaria com dois ouros, uma prata e um bronze. No atletismo, Yohansson Nascimento, Lucas Prado e Odair Santos ganhariam três ouros cada, enquanto Ariosvaldo Fernandes e Terezinha Guilhermino ficariam com dois ouros e uma prata cada. No judô, Antônio Tenório seria ouro na categoria até 100 kg; Karla Cardoso, na até 48 kg; e Daniele Silva, na até 63 kg; no powerlifting, Alexander Whitaker seria ouro na até 67 kg; Maurício Pômme e Carlos Santos seriam ouro nas duplas do tênis em cadeira de rodas; e as seleções de futebol de cinco, futebol de sete e vôlei sentado masculino também conquistariam a medalha de ouro. Vale citar também o tênis de mesa, 11 ouros em 24 provas, além de 7 pratas e 8 bronzes.

Em 2011, o Parapan retornaria ao México, sendo realizado na cidade de Guadalajara, mesma sede do Pan, e disputado entre 12 e 20 de novembro, começando cerca de 15 dias após o fim do Pan. Participariam 1355 atletas de 24 nações, competindo em 276 provas de 13 esportes - o futebol de sete sairia, bocha e ciclismo retornariam, e golbol e tiro com arco estreariam. O Brasil ficaria pela segunda vez no topo do quadro de medalhas, com 81 ouros, 61 pratas e 55 bronzes; os Estados Unidos viriam em segundo, e o anfitrião México em terceiro, com Cuba e Argentina fechando o Top 5. Daniel Dias, da natação, seria mais uma vez o maior destaque brasileiro, com 11 medalhas de ouro em 11 provas disputadas. Também na natação, André Brasil teria 6 ouros, Vanilton Filho 4 ouros e 1 bronze, e Joana Silva conquistaria 4 ouros; reclassificado da S4 para a S5, Clodoaldo Silva conquistaria 2 ouros e 4 pratas. No atletismo, o destaque seriam as mulheres, com Terezinha Guilhermino conquistando 3 ouros, Shirlene Coelho 2 ouros e 1 prata, e Jenifer Santos 2 ouros; Edson Pinheiro, Ariosvaldo Fernandes e Thierb Siqueira conquistariam 2 ouros e 1 prata cada, e Yohansson Nascimento conseguiria 2 ouros e 1 bronze. Soelito Gohr conseguiria 2 ouros, 1 prata e 1 bronze no ciclismo, e Karla Ferreira repetiria seu ouro no judô, mas Antônio Tenório acabaria ficando com a prata. O vôlei sentado masculino, golbol masculino e futebol de cinco também subiriam ao lugar mais alto do pódio, e o tênis de mesa somaria 12 ouros, 6 pratas e 6 bronzes, vencendo metade das provas em disputa.

Os V Jogos Parapanamericanos seriam realizados em Toronto, Canadá, entre 7 e 15 de agosto de 2015, mais uma vez começando cerca de 15 dias após o Pan. Essa seria a primeira edição do Parapan a contar com um mascote, mas ele seria o mesmo do Pan, o porco-espinho Pachi. O revezamento da Tocha Panamericana contaria não com uma, mas com duas tochas: a primeira seria acesa nas Cataratas do Niágara e a segunda na capital canadense, Ottawa, e cada uma percorreria diferentes cidades da província de Ontário, onde se localiza Toronto, até ambas se encontrarem na Cerimônia de Abertura e serem usadas de forma conjunta para acender a pira. Ao todo, 1651 atletas de 28 nações competiriam em 317 provas de 15 esportes - o futebol de sete retornaria, e a novidade seria o rugby em cadeira de rodas.

O Brasil, que levou a maior delegação dentre todas as nações participantes, seria mais uma vez o primeiro colocado do quadro de medalhas, com 109 ouros, 74 pratas e 74 bronzes, conquistando mais que o dobro de ouros do Canadá anfitrião, que viria em segundo com 50; o Top 5 se completaria com Estados Unidos, México e Colômbia. Aliás, se não fosse pelo rugby em cadeira de rodas ter perdido a disputa da medalha de bronze para a Colômbia, o Brasil conseguiria a proeza de ter ganhado medalhas em todas as modalidades do programa. A natação seria mais uma vez o maior destaque do país, com 104 medalhas, sendo 38 de ouros, incluindo triunfos de Clodoaldo Silva, em sua última participação em Parapans, Daniel Dias, André Brasil, Vanilton Nascimento e Talisson Glock; o atletismo faria 80 pódios, incluindo 34 medalhas de ouro, com destaque para Yohansson Nascimento, Alan Fonteles, Petrúcio Ferreira, Yeltsin Jacques, Terezinha Guilhermino e Verônica Hipólito. O futebol de cinco, o golbol masculino e feminino e o vôlei sentado masculino também conquistariam medalhas de ouro, e a maior surpresa do Brasil seria o ouro de Natália Mayara no tênis em cadeira de rodas.

A mais recente edição do Parapan, os VI Jogos Parapanamericanos, ocorreu em Lima, capital do Peru, entre 23 de agosto e 1 de setembro de 2019, começando 12 dias após o encerramento do Pan. Participaram 1878 atletas de 30 nações, competindo em 370 provas de 17 esportes - o tiro com arco sairia, mas estreariam tiro esportivo, badminton e taekwondo. O Brasil mais uma vez teria a maior delegação dentre todos os participantes, e conseguiria o melhor desempenho de sua história, ficando no topo do quadro de medalhas com nada menos que 123 ouros, 99 pratas e 85 bronzes, 307 medalhas no total - em segundo viriam os Estados Unidos, com 58 ouros, 62 pratas e 65 bronzes, 185 no total. O Top 5 se completaria com México, Colômbia e Argentina, e o Peru anfitrião viria apenas em décimo. Mantendo a tradição, a natação seria o esporte que mais traria medalhas ao Brasil, com 127, sendo 53 ouros; dentre os destaques, Daniel Dias, em sua última participação, Vanilton Nascimento, Phelipe Rodrigues, Joana Neves, Cecília Araújo e Maria Carolina Santiago. Em segundo viria novamente o atletismo, com 82 medalhas, sendo 33 ouros, e tendo como destaques Petrúcio Ferreira, Ariosvaldo Fernandes, Claudiney Batista e Jerusa Geber. Evelyn de Oliveira, Maciel Santos e Antônio Leme conquistariam três ouros na bocha; Lauro Cesar Chaman ganharia dois ouros e uma prata no ciclismo; e o powerlifting conseguiria 6 ouros, 3 pratas e 7 bronzes. Futebol de cinco, futebol de sete, golbol masculino e feminino e o vôlei sentado masculino também seriam ouro.

A próxima edição do Parapan também já está confirmada, para 2023, em Santiago, capital do Chile, mais uma vez programada para começar 12 dias após o encerramento do Pan. O programa contará mais uma vez com 17 esportes, mas o tiro com arco entrará no lugar do vôlei sentado, o que causou uma certa controvérsia; o APC alegou que "já há algum tempo" vinha pensando em mudanças no programa, analisou uma lista de 23 esportes, e escolheu apenas "os que fossem mais populares nas Américas".
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domingo, 23 de outubro de 2022

Escrito por em 23.10.22 com 0 comentários

Paralimpíadas de Inverno

Semana passada, eu fiz aqui um post sobre as Paralimpíadas. Quando eu o estava escrevendo, iria falar também sobre as Paralimpíadas de Inverno, mas acabei achando que o post estava ficando muito longo e confuso, então decidi separar as duas competições. Hoje, portanto, é dia de Paralimpíadas de Inverno no átomo!

O principal pioneiro do esporte de inverno para deficientes foi o esquiador austríaco Sepp Zwicknagel, ele mesmo um biamputado, que perdeu ambas as pernas na Segunda Guerra Mundial. Já sendo esquiador antes de se tornar deficiente, Zwicknagel passou a buscar formas de poder continuar praticando seu esporte preferido mesmo sem as pernas, começando pela mais óbvia, que era usar próteses, até começar a trabalhar em esquis especiais para amputados e outros cadeirantes, com a ajuda de outro esquiador, o alemão Franz Wendel, que havia perdido uma das pernas, também na Segunda Guerra Mundial, e não se adaptava às próteses da época. Os esforços de Zwicknagel e Wendel, muitos deles extremamente bem sucedidos, chamariam a atenção de outros esquiadores que haviam sofrido acidentes, bem como de clubes de esqui que desejavam que deficientes pudessem aproveitar o esporte junto ao demais membros, e começariam a organizar competições para deficientes já em 1947.

Ao longo dos anos seguintes, as técnicas e equipamentos criados por Zwicknagel e Wendel seriam aprimorados por muitos outros esquiadores, deficientes ou não, e fabricantes, até que, na década de 1960, clubes dos Estados Unidos começariam a oferecer o esqui para deficientes como opção para seus membros. Um desses membros não era cadeirante ou amputado, e sim um deficiente visual, Jean Eymore, um instrutor de esqui que havia perdido a visão em um acidente. Inspirado pelo sucesso do esqui para deficientes físicos, Eymore criaria as regras do esqui para deficientes visuais, que começaria a oferecer aos membros do clube onde trabalhava, em Aspen, Colorado, em 1969. Em meados da década de 1970, o esqui para deficientes já seria um grande sucesso, e representantes de vários países decidiriam tentar organizar uma competição internacional; para isso, eles procurariam a Federação Internacional de Esportes para Atletas com Necessidades Especiais (ISOD, da sigla em inglês), que concordaria em realizar o primeiro Campeonato Mundial de Esqui para Deficientes, na França, em 1974.

Como vimos semana passada, na época a ISMGF já havia realizado três Paralimpíadas (1960, 1964 e 1972) e estava prestes a realizar a quarta (em 1976). Como as Olimpíadas de Inverno eram realizadas desde 1924, já há algum tempo a ISMGF pensava em realizar, também, uma Paralimpíada de Inverno, já que, até esse Mundial de 1974, não havia nenhuma competição internacional da qual os atletas de esportes de inverno com deficiência pudessem participar. A principal dificuldade da ISMGF era que, na verdade, não havia esportes de inverno para deficientes, com o esqui sendo o único com uma base de atletas sólida e competições constantes; por causa disso, as cidades que sediavam Olimpíadas de Inverno não se interessavam em sediar também uma Paralimpíada, e outras cidades também não se animavam em assumir a responsabilidade. Após o Mundial de 1974, a ISMGF procuraria a ISOD, que concordaria em usar sua experiência na realização de eventos para organizar a primeira Paralimpíada de Inverno, e negociaria com a Suécia, principal país no esqui paralímpico da época, que aceitaria sediar o evento na pequena cidade de Örnsköldsvik, de 30 mil habitantes.

O nome oficial do evento seria Jogos Paralímpicos de Inverno (em sueco, Paralympiska Vinterspelen), mas, internacionalmente, a ISOD decidiria divulgá-lo como Jogos Olímpicos de Inverno para Deficientes. Seja como for, a I Paralimpíada de Inverno seria realizada entre 21 e 28 de fevereiro de 1976, contando com a participação de 16 nações, que enviariam 196 atletas para competir em 53 provas. Ao todo, nove dos 16 países participantes conquistariam pelo menos uma medalha (sendo que cada um desses nove, curiosamente, conquistaria pelo menos duas medalhas de ouro), com a Alemanha Ocidental terminando na primeira posição do quadro, com 10 ouros, 12 pratas e 6 bronzes, seguida da Suíça, que também teve 10 ouros, mas apenas 1 prata e 1 bronze; então teríamos Finlândia, Noruega, e a Suécia anfitriã viria na quinta posição, com 6 ouros, 7 pratas e 7 bronzes.

O programa oficial contaria com apenas dois esportes: o esqui alpino, que teria provas de slalom, slalom gigante e combinado, masculinas e femininas, e o esqui cross-country, que teria provas masculinas de 5 km, 10 km, 15 km, revezamento 3 x 5 km e revezamento 3 x 10 km, e femininas de 5 km, 10 km e revezamento 3 x 5 km. O programa contaria ainda com um esporte de demonstração, a corrida de trenós no gelo, tentativa da ISMGF de criar um equivalente paralímpico para a patinação em velocidade. A corrida de trenós no gelo não era um esporte organizado antes de ser incluída nas Paralimpíadas, e jamais teve uma federação internacional nem outras competições internacionais, mas chegou a fazer parte do programa principal paralímpico até 1998, quando, por falta de praticantes, foi abandonada até mesmo pelo IPC, que jamais conseguiu fazer dela um esporte verdadeiramente competitivo.

Embora, na época, ainda fosse usada no esporte paralímpico a classificação médica, que dividia os atletas em classes que dependiam do tipo de deficiência que cada um apresentava, nas Paralimpíadas de Inverno, desde a primeira edição, sempre foi usada a classificação funcional, adotada nas Paralimpíadas de Verão apenas a partir de 1996, e que divide os atletas em classes que dependem do impacto que sua deficiência tem em seu desempenho na prova. Assim, já em 1976, os amputados, paralisados cerebrais e cadeirantes competiriam todos juntos, em todas as provas, com apenas os deficientes visuais, que nessa primeira edição competiriam apenas no esqui cross-country, tendo provas específicas para eles.

A primeira Paralimpíada de Inverno seria um grande sucesso, e, pouco após seu término, a Noruega se ofereceria para sediar a segunda edição do evento, dali a quatro anos. Após alguma negociação entre ISMGF, ISOD e o Comitê Olímpico Norueguês, ficaria acertado que as Paralimpíadas de Inverno de 1980 seriam realizadas entre 1 e 7 de fevereiro na cidade de Geilo (que, se vocês me perguntarem, tem um nome excelente para sediar uma competição de inverno). Menor ainda que Örnsköldsvik, que pelo menos era uma cidade no verdadeiro significado da palavra, Geilo, de 2.500 habitantes e a 250 km de Oslo, a capital norueguesa, era praticamente um resort de esqui - de fato, o primeiro da Noruega, inaugurado em 1890. Principalmente por causa disso, todas as instalações já estavam prontas, a rede hoteleira da cidade pôde acomodar todos os participantes, e o público presente foi bem maior que o da primeira edição, o que contribuiu para que essa edição, cujo nome oficial foi, mais uma vez, Jogos Paralímpicos de Inverno (Paralympiske Vinterleker, em norueguês), mas, mais uma vez, internacionalmente fosse divulgado como II Jogos Olimpicos de Inverno para Deficientes, fosse um sucesso ainda maior que a anterior.

Ao todo, participariam 299 atletas, representando 18 nações em 64 provas de três esportes (esqui alpino, esqui cross-country e corrida de trenós no gelo, promovida para o programa principal), além de um esporte de demonstração, a corrida de trenós downhill, também inventada pela ISMGF e inexistente fora das Paralimpíadas. Os anfitriões noruegueses fariam a festa e terminariam no topo do quadro de medalhas, bem à frente da segunda colocada Finlândia, com Áustria, Suécia e Suíça completando o Top 5.

A terceira edição das Paralimpíadas de Inverno seriam um marco para o evento: seria a primeira edição organizada pelo ICC, um comitê especial criado em 1982 com a participação de várias federações internacionais de esportes para deficientes, incluindo a ISOD, e que fazia parte da "família olímpica", o que garantia que as Paralimpíadas de Inverno seguissem todos os ideais olímpicos - a primeira edição das Paralimpíadas de Verão a ser disputada de acordo com a Carta Olímpica seria a de 1988, mas, antes disso, teríamos duas edições das Paralimpíadas de Inverno sancionadas pelo Comitê Olímpico Internacional. O COI, inclusive, tentaria fazer com que as Paralimpíadas de Inverno de 1984 fossem sediadas pela mesma cidade que as Olimpíadas de Inverno daquele ano, Sarajevo, mas não conseguiu porque o esqui paralímpico não era popular na Iugoslávia, onde a cidade ficava na época (hoje, é a capital da Bósnia-Herzegovina); Sarajevo concordaria, entretanto, em adicionar quatro provas paralímpicas ao programa das Olimpíadas de Inverno, todas no slalom gigante masculino do esqui alpino, como esporte de demonstração.

Com a recusa de Sarajevo, o ICC ofereceria as Paralimpíadas de Inverno de 1984 a Innsbruck, na Áustria, que havia sediado as Olimpíadas de Inverno de 1964 e 1976, e contava com instalações de primeiro nível. Mais uma vez, o nome oficial da competição seria Jogos Paralímpicos de Inverno (Paralympische Winterspiele, em alemão), mas, para manter o padrão, internacionalmente eles seriam promovidos como III Jogos Olimpicos de Inverno para Deficientes. O evento seria realizado entre 14 e 20 de janeiro, e contaria com 419 atletas de 21 nações competindo em 107 provas de 3 esportes - mais uma vez, esqui alpino, esqui cross-country e corrida de trenós no gelo. A Áustria anfitriã viria bem à frente no quadro de medalhas, com 34 ouros, 19 pratas e 17 bronzes, seguida da Finlândia, com 19 ouros, 9 pratas e 6 bronzes; Noruega, Alemanha Ocidental e Estados Unidos completariam o Top 5.

Por decisão do ICC, ficaria decidido que, retroativamente, as três edições já realizadas seriam conhecidas oficialmente como I, II e II Jogos Paralímpicos de Inverno, com a contagem seguindo a partir de 1988, quando seriam realizados os IV Jogos Paralímpicos de Inverno. O COI também havia negociado para que, a partir de 1988, as Olimpíadas de Inverno e Paralimpíadas de Inverno ocorressem sempre na mesma sede; infelizmente, Calgary, no Canadá, sede das Olimpíadas de Inverno daquele ano, teria de desistir em cima da hora devido a problemas financeiros que a impossibilitariam de sediar ambos os eventos - e só foi perdoada porque o acordo com o COI foi firmado após sua escolha como sede, ou seja, quando foi escolhida, Calgary não sabia que teria de sediar uma Olimpíada e uma Paralimpíada. Como plano B, o ICC recorreria novamente a Innsbruck, que se tornaria a primeira e única cidade a sediar duas edições seguidas das Paralimpíadas de Inverno.

As Paralimpíadas de Inverno de 1988 aconteceriam entre 17 e 24 de janeiro, e contariam com a participação de 377 atletas de 22 países, incluindo a União Soviética, que participaria pela primeira e última vez. O programa contaria com 96 provas de 4 esportes, sendo a novidade o biatlo, disputado nessa edição apenas no masculino e apenas por amputados; vale dizer também que essa seria a última edição na qual a corrida de trenós no gelo seria disputada ao ar livre. A Noruega ficaria com o topo do quadro de medalhas, seguida de perto pela Áustria; a terceira colocada, a Alemanha Ocidental, ficaria bem para trás, e Finlândia e Suíça completariam o Top 5.

Para 1992, finalmente o COI conseguiria que Olimpíadas de Inverno e Paralimpíadas de Inverno acontecessem na mesma cidade - ou quase. As Olimpíadas de Inverno daquele ano aconteceriam em Albertville, na França, que não se oporia a sediar também as Paralimpíadas de Inverno, mas com uma condição: a de que algumas provas pudessem ser realizadas na cidade vizinha, Tignes, que já contava com instalações de esqui de primeira linha, mas era pequena demais para sediar uma Olimpíada de Inverno; essa divisão faria com que Albertville não precisasse construir instalações específicas para a Paralimpíada de Inverno, reduzindo os custos de sediar ambas as competições. ICC e COI concordariam, e, oficialmente, a sede das Paralimpíadas de Inverno de 1992 ficaria registrada como Tignes-Albertville.

Como a França até hoje jamais sediou uma Paralimpíada de Verão, as Paralimpíadas de Inverno de 1992 seriam o primeiro e até agora mais importante evento esportivo paralímpico já realizado em solo francês. Essa também seria a primeira edição de uma Paralimpíada de Inverno a contar com um mascote, Alpy, que representava a Grande Motte, principal montanha da cidade de Tignes. Entre 25 de março e 1 de abril, 365 atletas de 24 nações competiriam em 78 provas de 3 esportes - por falta de um local de competição adequado, a corrida de trenós no gelo ficaria de fora. O biatlo mais uma vez seria disputado apenas no masculino, mas agora teria provas também para deficientes visuais; o esqui alpino e o esqui cross-country contariam com provas para deficientes intelectuais, mas essas seriam consideradas esportes de demonstração, sem que suas medalhas contassem para o total.

Falando nisso, o quadro de medalhas teria várias surpresas: pra começar, os Estados Unidos, que nas cinco edições anteriores jamais haviam tido grande destaque, em 1992 conseguiriam ficar em primeiro lugar, com 20 ouros, 16 pratas e 9 bronzes. Em segundo lugar viria a Alemanha, competindo pela primeira vez após a reunificação, com 12 ouros, 17 pratas e 9 bronzes. O terceiro lugar ficaria com a Equipe Unificada, composta por 12 das 15 ex-repúblicas soviéticas (só ficariam de fora Azerbaijão, Moldova e Turcomenistão, que não classificariam nenhum atleta), e que ganharia 10 ouros, 8 pratas e 3 bronzes. A França se tornaria o primeiro anfitrião a ficar de fora do Top 5, que se completaria com Áustria e Finlândia, vindo em sexto lugar com 6 ouros, 4 pratas e 9 bronzes.

A edição de 1992 seria a última organizada pelo ICC; a partir de 1994, assumiria as rédeas o Comitê Paralímpico Internacional (IPC), que seria fundado em 1989. Sim, 1994, porque, para que Olimpíadas de Inverno e Paralimpíadas de Inverno não ficassem descasadas, e pudessem continuar ocorrendo na mesma sede, o IPC seguiria o COI, que não queria mais que as Olimpíadas de Verão e as de Inverno acontecessem sempre no mesmo ano, e realizaria a sexta edição das Paralimpíadas de Inverno apenas dois anos após a quinta, voltando para o intervalo padrão de quatro anos a partir da sétima. Como agora já estava determinado que a sede das Paralimpíadas de Inverno seria a mesma das Olimpíadas de Inverno do mesmo ano, as Paralimpíadas de Inverno de 1994 aconteceriam em Lillehammer, Noruega, que se tornaria o primeiro país a sediar duas edições do evento em duas cidades diferentes (já que a Áustria havia sediado duas seguidas na mesma cidade).

As Paralimpíadas de Inverno de 1994 ocorreriam em Lillehammer entre 10 e 19 de março, começando uma semana e meia após o final das Olimpíadas de Inverno - em 1992, a distância entre a cerimônia de encerramento de uma e a de abertura da outra seria de mais de um mês. Participariam 471 atletas de 31 nações, competindo em 133 provas de 5 esportes. O estreante seria o hóquei sobre trenó, que teria um torneio misto, mas no qual a única participante mulher seria a norueguesa Britt Mjaasund Øyen, que já havia competido em edições anteriores na corrida de trenós no gelo - que, aliás, seria o quinto esporte do programa, retornando após ficar de fora em 1992, e dessa vez tendo suas provas realizadas no rinque onde, nas Olimpíadas de Inverno, foi disputada a patinação artística. Vale citar também que as mulheres estreariam no biatlo, no qual o torneio masculino contaria, pela primeira vez, com provas para atletas que tinham de esquiar sentados.

O mascote dessa edição seria um troll, ser mitológico bastante característico da mitologia nórdica. Ele seria escolhido através de um concurso do qual puderam participar alunos de escolas primárias de toda a Noruega, e foi criado por Janne Solem - que fez questão de que, como seria mascote das Paralimpíadas, ele fosse amputado de uma perna. Seu nome seria escolhido através de outro concurso, e acabaria sendo Sondre, em homenagem a um dos pioneiros do esqui esportivo, o norueguês Sondre Nordheim. No quadro de medalhas, a Noruega anfitriã viria em primeiro, seguida da Alemanha e dos Estados Unidos, com França e Rússia, em sua primeira participação, fechando o Top 5.

As Paralimpíadas de Inverno de 1998 seriam disputadas na cidade japonesa de Nagano, e seriam a primeira edição de uma Paralimpíada de Inverno realizada fora de Europa. Essa edição detém até hoje o recorde de maior número de participantes, 571, que representaram 32 nações em 122 provas de 5 esportes, os mesmos da edição anterior. O mascote seria o coelho Parabbit, e as competições ocorreriam entre 5 e 14 de março, começando cerca de duas semanas após as Olimpíadas de Inverno, o que se tornaria o padrão a partir de então. O Japão anfitrião terminaria no quadro de medalhas apenas em quarto lugar, com 12 ouros, 16 pratas e 13 bronzes, superando a quinta colocada Rússia no número de pratas, já que os russos tiveram 12 ouros, 10 pratas e 9 bronzes; os três primeiros seriam, mais uma vez, Noruega, Alemanha e Estados Unidos.

Em 2002, as Paralimpíadas de Inverno chegariam pela primeira vez aos Estados Unidos, sendo disputadas em Salt Lake City entre 7 e 16 de março. Participariam 36 nações, incluindo, pela primeira vez, a China, representadas por 416 atletas, dos quais o maior destaque seria a norueguesa Ragnhild Myklebust, que, em sua quinta e última participação, a primeira tendo sido em 1988, conquistaria cinco ouros no esqui cross-country e um no biatlo, se aposentando como a recordista de todos os tempos em Medalhas Paralímpicas de Inverno, com 22 ouros (sendo 16 no esqui cross-country, 4 na corrida de trenós no gelo e 2 no biatlo), 3 pratas (na corrida de trenós no gelo) e 2 bronzes (um na corrida de trenós no gelo e um no biatlo).

O programa de 2002 contaria com 92 provas de 4 esportes, com a corrida de trenós no gelo não estando presente. O mascote seria a lontra Otto (um trocadilho, já que lontra, em inglês, é otter), escolhida por seu caráter simbólico: devido à poluição, as lontras desapareceriam do Green River, principal rio do estado de Utah, onde se localiza Salt Lake City, mas, graças a um programa de despoluição criado especialmente para os Jogos, elas voltariam a aparecer. No quadro de medalhas, a Alemanha viria em primeiro lugar, seguida dos anfitriões Estados Unidos e da Noruega; o Top 5 contaria também com Áustria e Rússia.

Em 2006, as Paralimpíadas de Inverno voltariam à Europa, sendo realizadas, entre 10 e 19 de março, na cidade italiana de Turim. Participariam 486 atletas de 39 nações - ou 38, já que a Grécia, em sua segunda participação, conta como tendo enviado um atleta do esqui alpino, que participou da Cerimônia de Abertura, mas não apareceu para competir no dia de sua prova. O mascote seria Aster, que representava um floco de neve. A Itália anfitriã não iria bem e terminaria apenas na nona posição do quadro de medalhas, com 2 ouros, 2 pratas e 4 bronzes; o topo do quadro ficaria pela primeira vez com a Rússia, seguida da Alemanha, e o Top 5 se concluiria com Ucrânia, França e Estados Unidos.

O programa seria reformulado e bastante reduzido, contando com apenas 58 provas de 5 esportes; a partir dessa edição, no esqui alpino, esqui cross-country e biatlo, cada prova teria apenas três versões, uma para esquiadores que conseguissem esquiar em pé, uma para esquiadores que tivessem de esquiar sentados, e uma para deficientes visuais, ao invés de várias provas para diferentes classes; essa mudança visava aumentar o número de competidores em cada prova e o nível da competição, e foi considerada bem-sucedida pelo IPC. O quinto esporte do programa seria o curling em cadeira de rodas, esporte misto que faria sua estreia tendo como medalhistas Canadá com o ouro, Grã-Bretanha com a prata e Suécia com o bronze.

As Paralimpíadas de Inverno de 2010 seriam realizadas em Vancouver, no Canadá, entre 12 e 21 de março. Essa seria a primeira ocasião na qual os mascotes das Olimpíadas e das Paralimpíadas do mesmo ano seriam revelados juntos, no mesmo evento, algo que se tornaria o padrão a partir de 2012; para 2010, o mascote das Paralimpíadas de Inverno seria Sumi, um "espírito guradião animal" composto de partes de vários animais nativos do oeste canadense, vestido com roupas tradicionais dos povos indígenas da região. 506 atletas de 44 nações competiriam em 64 provas de 5 esportes, os mesmos da edição anterior; a canadense Viviane Forest se tornaria a primeira atleta a ganhar medalhas de ouro tanto nas Paralimpíadas de Inverno quanto nas de Verão, conquistando o lugar mais alto do pódio no downhill do esqui alpino, após ter sido campeã em 2000 e 2004 no golbol. O topo do quadro de medalhas ficaria com a Alemanha, seguida da Rússia e do anfitrião Canadá - o surpreendente Top 5 se completaria com Eslováquia e Ucrânia.

Em 2014 seria a vez de a Rússia sediar uma Paralimpíada de Inverno, com a cidade de Sochi recebendo o evento entre 7 e 16 de março, em meio a muitos protestos contra a anexação da Crimeia, que ocorrera um mês antes. Pela primeira vez, uma Paralimpíada de Inverno teria dois mascotes, o menino Luchik, que representava um raio de sol, e a menina Snezhinka, que representava um floco de neve. 550 atletas de 45 nações competiriam em 72 provas de 6 esportes, com a nova adição sendo o snowboarding. Essa seria a primeira Paralimpíada de Inverno com a participação do Brasil, que classificaria dois atletas: André Pereira, que terminaria na 28a posição no snowboard cross classe LL, e Fernando Rocha, que competiria no esqui cross-country para atletas sentados, nas provas de 1 km, 10 km e 15 km, tendo como melhor resultado o 15o lugar nessa última. O russo Roman Petrushov, que competiria no esqui cross-country e no biatlo, ganharia seis medalhas de ouro, se tornando o recordista de medalhas douradas em uma única edição dos Jogos.

A Rússia terminaria em primeiro no quadro de medalhas com 30 de ouro, 28 de prata e 22 de bronze, recorde tanto no número de ouros quanto no número total de medalhas para um único país em uma mesma edição de Paralimpíada de Inverno - a diferença seria brutal para a segunda colocada, a Alemanha, que terminaria com 9 de ouro, 5 de prata e 1 de bronze. Em terceiro viria novamente o Canadá, seguido da Ucrânia, cuja participação foi dúvida até a cerimônia de abertura, devido à questão da Crimeia; a França completaria o Top 5. Infelizmente, cerca de um ano e meio após o encerramento dos Jogos, seria descoberto um esquema de doping governamental por parte da Rússia para as Olimpíadas de Inverno de 2014, que colocou em dúvida se o recorde de medalhas obtidas pelo país teria sido conquistado de forma legítima; como não foi possível provar se os paratletas russos também fizeram parte do esquema, todos os resultados da Rússia nas Paralimpíadas de Inverno de 2014 foram mantidos, mas o Comitê Paralímpico Russo seria suspenso, com os russos não podendo participar das Paralimpíadas de Verão de 2016 e tendo de competir nas Paralimpíadas de Inverno de 2018 sob o nome de Atletas Paralímpicos Neutros, usando a bandeira do IPC e ouvindo o hino do IPC cada vez que conquistavam uma medalha de ouro.

As Paralimpíadas de Inverno de 2018 ocorreriam em Pyeongchang, Coreia do Sul, entre 9 e 18 de março, e contariam com a participação de 569 atletas que representariam 49 delegações - incluindo os Atletas Paralímpicos Neutros. Essa seria a edição com o maior número de mulheres competindo, 133, e teria como mascote o urso Bandabi. O programa contaria com 80 provas de 6 esportes, os mesmos da edição anterior; o maior acréscimo seria no snowboarding, que passaria de duas provas em 2014 para 10 em 2018. O hóquei sobre trenó voltaria a ter uma mulher competindo, e mais uma vez seria uma norueguesa, Lena Schrøder.

O Brasil enviaria três atletas: André Cintra competiria no snowboarding, classe LL-1, nas provas do snowboard cross e do banked slalom, enquanto Cristian Ribera e Aline Rocha competiriam no esqui cross-country para atletas sentados. Cristian conseguiria a melhor posição do Brasil, sexto lugar nos 15 km, competindo também nas provas de 1 km e 7,5 km; Aline competiria no 1 km, 5 km e 12 km, e os dois juntos participariam da prova do revezamento misto 4 x 2,5 km, terminando na 13a posição. No quadro de medalhas, os Estados Unidos terminariam em primeiro, com 13 ouros, 15 pratas e 8 bronzes, seguidos dos Atletas Paralímpicos Neutros (ou seja, da Rússia), com 8 ouros, 10 pratas e 6 bronzes, e então Canadá, França e Alemanha; a Coreia do Sul seria o pior anfitrião da história e terminaria em 16o lugar, empatada com Finlândia e Nova Zelândia, com apenas 1 ouro e 2 bronzes.

A mais recente edição das Paralimpíadas de Inverno foi a de 2022, em Pequim, China, que se tornaria a primeira cidade a sediar uma Paralimpíada de Verão (em 2008) e uma de Inverno. Entre 4 e 13 de março, 564 atletas de 46 nações competiriam em 78 provas de 6 esportes; a Rússia mais uma vez seria proibida de participar, agora por ter invadido a Ucrânia, assim como Belarus, considerada aliada da Rússia no conflito. Houve muita dúvida se os atletas ucranianos conseguiriam viajar para Pequim, mas não somente a Ucrânia participou como conseguiu seu melhor desempenho na história, terminando em segundo lugar no quadro de medalhas com 11 ouros, 10 pratas e 8 bronzes, que incluíam três pódios completos no biatlo, nas provas masculinas de 6 km e 10 km para deficientes visuais e na feminina de 10 km para esquiadores de pé. A China também conseguiria um pódio completo, no snowboard cross masculino, classe UL, e a chinesa Yu Jing se tornaria a primeira mulher a ganhar uma medalha no hóquei sobre trenó, e apenas a terceira a participar de uma Paralimpíada de Inverno. A China anfitriã, aliás, ficaria em primeiro no quadro de medalhas, com o melhor desempenho de um país asiático numa Paralimpíada de Inverno: 18 ouros, 20 pratas e 23 bronzes. O Top 5 também contaria com o Canadá em terceiro, e então França e Estados Unidos. O mascote da competição seria Shuey Rhon Rhon, inspirada nas famosas lanternas chinesas de papel.

O Brasil enviaria um total de 6 atletas: André Barbieri competiria no snowboarding, classe LL-1, nas provas do snowboard cross e do banked slalom, mas o esporte com mais brasileiros seria o esqui cross-country para atletas sentados, no qual Cristian Ribera, Guilherme Rocha, Robelson Lula e Wesley Vinicius dos Santos competiriam nas provas de 1,5 km, 10 km, 12,5 km e 18 km, e Aline Rocha nas provas de 1,5 km, 7,5 km e 15 km; Cristian, Aline, Guilherme e Robelson também competiriam no revezamento misto 4 x 2,5 km.

Para terminar, a lista dos esportes do programa paralímpico de inverno; entre parênteses, F significa que o esporte tem provas para deficientes físicos (cadeirantes, amputados e paralisados cerebrais), e V significa que o esporte tem provas para deficientes visuais. Atualmente fazem parte do programa biatlo (F, V), curling em cadeira de rodas (F), esqui alpino (F, V), esqui cross country (F, V), hóquei sobre trenó (F) e snowboarding (F). O único esporte que já fez parte do programa e não faz mais é a corrida de trenós no gelo (F); para o futuro, o IPC estuda a inclusão dos esportes de trenó (bobsled, luge e skeleton), mas esbarra no ainda pequeno número de praticantes.
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domingo, 16 de outubro de 2022

Escrito por em 16.10.22 com 0 comentários

Paralimpíadas

Já faz muito tempo, mas muito mesmo, coisa de dez anos, que eu penso em fazer uma série sobre as Paralimpíadas, no mesmo estilo das que eu fiz sobre as Olimpíadas ou sobre os World Games. Sempre acabo desistindo porque, enquanto as histórias das Olimpíadas, mesmo lá das primeiras edições, são muito bem documentadas, as Paralimpíadas não gozam da mesma sorte - principalmente das primeiras edições, entre 1960 e 1984, praticamente as únicas informações fáceis de serem encontradas são os nomes dos medalhistas, e uma série de posts simplesmente sobre quem ganhou o quê não me parece que teria tanta graça. Esse ano, depois que eu comecei a fazer os posts sobre torneios multiesportivos, achei que poderia tentar fazer um igual sobre as Paralimpíadas, e essa tentativa resultou nesse post aqui. Assim, hoje, depois de anos de tentativas, finalmente é dia de Paralimpíadas no átomo!


A história das Paralimpíadas não começa com o Comitê Paralímpico Internacional, que, acreditem ou não, é bem recente, e sim com o Dr. Ludwig Guttmann, um judeu alemão que fugiu para a Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial e foi pioneiro no uso do esporte como ferramenta para reabilitação de soldados que voltavam da guerra com deficiências físicas. A especialidade do Dr. Guttmann era o trabalho com cadeirantes, e, em 1948, ele decidiria criar um torneio esportivo para que esses novos atletas pudessem competir uns contra os outros. Esse torneio seria realizado na cidade de Stoke Mandeville, na Inglaterra, e começaria no exato mesmo dia que as Olimpíadas de 1948, que estavam ocorrendo em Londres. O Dr. Guttmann quis chamar seu evento de Paraplegic Games ("jogos paraplégicos"), mas ele acabou tendo o nome oficial de International Wheelchair Games (os Jogos Internacionais em Cadeiras de Rodas), e ganharia o apelido de Jogos de Stoke Mandeville, que acabaria pegando e sendo usado como oficial até 1995.

Os Jogos de Stoke Mandeville, aliás, ainda existem, e, desde 2009, são organizados a cada dois anos, sempre nos anos ímpares, por uma entidade chamada IWAS (da sigla em inglês para Esportes Internacionais para Cadeiras de Rodas e Amputados), com o nome oficial de IWAS World Games - até 1995, eles eram organizados pela Federação Internacional dos Jogos de Stoke Mandeville, ou ISMGF. Diferentemente do que ocorre com as Paralimpíadas, porém, que tentam incluir atletas com as mais variadas deficiências, os IWAS World Games são exclusivos para os cadeirantes. Por ter sido a primeira cidade na qual o torneio foi disputado, e sua única sede até 1995 (a partir de 1997 cada edição passou a ser disputada em uma cidade diferente, com o Rio de Janeiro tendo sediado os então chamados World Wheelchair and Amputee Games em 2005), a cidade de Stoke Mandeville tem para o Movimento Paralímpico a mesma importância que a Grécia tem para o Movimento Olímpico.

A primeira edição das Paralimpíadas seria realizada em 1960, na cidade de Roma, Itália. Na época, os Jogos de Stoke Mandeville eram realizados anualmente, e tinham grande dificuldade para atrair atletas de fora da Europa (sendo Israel o único país não-europeu que enviava atletas regularmente). Para a edição de 1960, então, a ISMGF faria um acordo com o comitê organizador local das Olimpíadas de 1960, para que os Jogos de Stoke Mandeville pudessem utilizar as mesmas instalações esportivas das Olimpíadas. Vejam bem, foi um acordo com o comitê organizador local, não com o COI, e o nome Paralimpíada sequer seria usado; o nome oficial do evento ainda seria Jogos Internacionais Anuais de Stoke Mandeville, e todas as regras, em relação a quais esportes constariam do programa e quais atletas poderiam participar, seriam as da ISMGF. A intenção era simplesmente usar o evento como vitrine para que mais atletas de fora da Europa se interessassem em competir em Stoke Mandeville em 1961, o que, inclusive, não deu certo.

A para todos os efeitos primeira edição das Paralimpíadas começou exatamente uma semana após o fim das Olimpíadas, em 18 de setembro, e se encerrou no dia 25, exatamente uma semana depois. Como oficialmente era uma edição dos Jogos de Stoke Mandeville, todos os esportes de 1960 eram voltados para cadeirantes. O programa contaria com 57 provas de 8 esportes: atletismo, basquete em cadeira de rodas, dartchery, esgrima em cadeira de rodas, natação, sinuca, tênis de mesa e tiro com arco - para quem não leu meu post sobre dardos, o dartchery era idêntico ao tiro com arco, exceto pelo alvo que os atletas tinham de atingir, que era o mesmo usado no jogo de dardos; vale citar também que todas as provas do atletismo eram de arremesso, sem nenhuma de salto (obviamente, já que todos os atletas eram cadeirantes) nem de corrida. Cerca de 400 atletas participaram, vindo de 18 países, 13 deles europeus; os outros cinco foram Argentina, Austrália, Estados Unidos, Israel e Rodésia. A Itália anfitriã ficaria com o topo do quadro de medalhas, seguida do Reino Unido, Alemanha Ocidental, Áustria e Estados Unidos. Ao todo, 17 dos 18 países ganharam medalhas, sendo que 15 ganharam pelo menos uma de ouro - o coitado que ficou sem nada foi a Suécia, que enviou apenas 3 atletas.

Para a ISMGF, um dos motivos pelos quais a estratégia para atrair mais atletas de fora da Europa não daria certo seria que a edição de 1960 também seria realizada na Europa - fora da Inglaterra, mas ainda assim na Europa. Como a edição seguinte das Olimpíadas, em 1964, seria realizada fora da Europa - no caso, em Tóquio, no Japão - ela decidiria tentar novamente, fazendo outra vez um acordo com o comitê organizador local para usar as mesmas instalações das Olimpíadas. Dessa vez daria mais certo, com mais atletas de fora da Europa competindo nos Jogos de Stoke Mandeville de 1965. Embora, mais uma vez, o nome oficial do evento fosse Jogos Internacionais Anuais de Stoke Mandeville, a edição de 1964 seria a primeira na qual seria usada a expressão Jogos Paralímpicos, em cartazes e pôsteres espalhados pela cidade e no logotipo oficial do evento, que dizia apenas "Paralympic Tokyo 1964"; quem inventou essa expressão, assim como o porquê de ela ter sido usada, infelizmente se perdeu com o tempo.

A segunda edição das Paralimpíadas começaria dia 8 de novembro, 15 dias depois da Cerimônia de Encerramento das Olimpíadas, e terminaria em 12 de novembro, apenas quatro dias depois, porque os organizadores não conseguiriam reservar os locais de competição por mais tempo. Mais uma vez, todos os esportes eram exclusivos para cadeirantes; o número de provas mais que dobraria, para 144, e o número de esportes passaria para 9 com a adição do levantamento de peso - e, pela primeira vez, o atletismo teria uma prova de corrida, os 60 m em cadeira de rodas. Apesar do aumento no número de provas, o número de atletas diminuiria, para 375, mas o número de países representados aumentaria para 21, e todos os três novos (Fiji, África do Sul e Japão) seriam de fora da Europa. O topo do quadro de medalhas ficaria com os Estados Unidos, bem à frente do segundo colocado, mais uma vez o Reino Unido, com Itália, Austrália e Rodésia fechando o Top 5; o Japão anfitrião terminaria na 13a colocação. Ao todo, 17 países ganhariam pelo menos uma medalha - incluindo a Suécia, que ganharia um bronze - sendo que 14 deles ganhariam pelo menos um ouro.

A edição seguinte das Olimpíadas, em 1968, seria realizada no México, que, diferentemente da Itália e do Japão, não aceitou fazer acordo com a ISMGF. Quando ficou sabendo, o Comitê Olímpico de Israel, que, como foi dito, era o país de fora da Europa que mais apoiava o evento, entrou em contato com a ISMGF e ofereceu Tel Aviv como sede. Assim, a terceira edição das Paralimpíadas (que, oficialmente, ainda era a 17a edição dos Jogos Internacionais Anuais de Stoke Mandeville, com o nome Jogos Paralímpicos não sendo visto em lugar nenhum) seria realizada na capital israelense entre 4 e 13 de novembro - começando nove dias após as Olimpíadas, que aconteceram do outro lado do mundo. Mais uma vez, todas as 181 provas foram exclusivas para cadeirantes; o número de esportes aumentou para 10, com a inclusão dos lawn bowls. 750 atletas competiriam, representando 28 nações. Os Estados Unidos mais uma vez seriam os que ganhariam mais medalhas, e o Reino Unido mais uma vez seria o segundo colocado, mas dessa vez mais próximo; Israel viria na terceira posição, e Austrália e França fechariam o Top 5.

Em 1972, as Olimpíadas seriam disputadas em Munique, na Alemanha Ocidental. O governo alemão aceitaria fazer um acordo com a ISMGF, mas com duas novidades: primeiro, a Paralimpíada não seria realizada em Munique, e sim em Heidelberg, a 343 km de distância; segundo, pela primeira vez a Paralimpíada seria realizada antes da Olimpíada, com os Jogos Olímpicos começando 15 dias depois dos Jogos Paralímpicos - que, mais uma vez, não viram esse nome escrito em lugar nenhum, sendo oficialmente chamados de 21a edição dos Jogos Internacionais Anuais de Stoke Mandeville, mas, no material em alemão do evento, sendo chamados de Weltspiele der Gelähmten, os Jogos Mundiais dos Paralisados. Seja como for, a quarta edição das Paralimpíadas seria realizada entre 2 e 11 de agosto, e contaria com 187 provas de 10 esportes, os mesmos da edição anterior. Essa seria a primeira edição em que nem todos os esportes seriam exclusivos de cadeirantes, contando também com a presença de deficientes visuais, mas sem que suas provas valessem medalhas; isso faria com que essa também fosse a primeira edição a incluir um esporte de demonstração, o golbol, esporte coletivo para cegos muito popular na Alemanha da época, que teve um torneio masculino incluído a pedido do comitê organizador local - a outra prova para deficientes visuais seria uma corrida de 100 m, parte do programa do atletismo. A Alemanha Ocidental se prepararia bem para o evento, e conquistaria o topo do quadro de medalhas, seguida dos Estados Unidos, Reino Unido, África do Sul e Holanda. Ao todo, competiriam em Heidelberg 1004 atletas de 41 países, incluindo, pela primeira vez, o Brasil, que enviaria 7 homens e uma mulher, sem obter resultados expressivos.

Para a edição seguinte, em 1976, aconteceria algo semelhante a 1972: as Olimpíadas de 1976 seriam disputadas em Montreal, no Canadá, que aceitou fazer um acordo com a ISMGF, mas nos mesmos moldes do que a Alemanha tinha feito; assim, as Paralimpíadas de 1976 seriam disputadas ainda no Canadá, mas na cidade de Toronto. Essa seria a primeira edição na qual não seria usado o nome Jogos Internacionais Anuais de Stoke Mandeville para o evento (nem entraria na contagem, com a de 1975 sendo a 24a edição e a de 1977 sendo a 25a), embora também não fosse usado o nome Jogos Paralímpicos, e sim "Olimpíada para os Deficientes Físicos" - no material oficial, incluindo as transmissões pela TV, o evento também seria chamado de "Torontolimpíada". Aliás, essa também seria a primeira edição das Paralimpíadas a ter provas transmitidas ao vivo pela televisão, embora apenas para a província de Ontário, onde está localizada Toronto.

As Paralimpíadas de 1976 seriam marcadas por uma controvérsia: desde 1962, a África do Sul, devido à política do apartheid, estava banida de todas as competições esportivas, exceto dos Jogos de Stoke Mandeville, dos quais continuava participando normalmente. Pouco antes do início das Olimpíadas de 1976, o Congo exigiu que o COI impedisse a Nova Zelândia de participar, pois seu time de rugby havia viajado até a África do Sul para jogar um amistoso; o COI não aceitou o argumento e manteve a Nova Zelândia nos Jogos, o que resultou em um boicote de 28 nações, sendo 26 africanas, mais o Iraque e Gana. Esse boicote levaria a várias reações em relação às Paralimpíadas, que iam do medo de um boicote semelhante ao questionamento por parte da imprensa canadense sobre por que a África do Sul não era proibida de disputar também as Paralimpíadas. O Dr. Guttmann, na época presidente da ISMGF, se reuniria com presidentes de diversos comitês olímpicos nacionais, e até mesmo com o governo canadense, a fim de chegar a uma solução satisfatória para a questão. O governo canadense não se opôs à participação dos atletas sul-africanos, mas, assim como ocorreu com as Olimpíadas, um grupo de 25 nações africanas considerou sua participação inaceitável, e boicotou as Paralimpíadas.

Os Jogos Paralímpicos de 1976 seriam realizados entre 4 e 12 de agosto, começando apenas três dias após a cerimônia de encerramento das Olimpíadas. Contariam com a participação de 1657 atletas de 41 países, que competiriam em 447 provas de 14 esportes - os quatro novos foram o golbol, o tiro esportivo, o vôlei de pé e o vôlei sentado. Pela primeira vez na história das Paralimpíadas, atletas amputados e deficientes visuais tiveram suas próprias provas, que também valeram medalhas, pondo fim à exclusividade dos cadeirantes para o evento. O topo do quadro de medalhas voltaria a ser dos Estados Unidos, seguidos da Holanda, Israel, Alemanha Ocidental e Reino Unido; o Canadá anfitrião ficaria em sexto. O Brasil enviaria 23 atletas e terminaria na 32a posição, conquistando sua primeira medalha, uma prata nas duplas WH dos lawn bowls, com Robson Almeida e Luis Carlos Costa.

Em 1980, as Olimpíadas ocorreriam em Moscou. A União Soviética jamais havia participado de nenhuma edição dos Jogos de Stoke Mandeville, mas, mesmo assim, a ISMGF enviaria uma carta perguntando se eles estariam dispostos a sediar uma edição do evento. A carta que a ISMGF recebeu em resposta é tida até hoje como uma grande anedota, pois o Ministério do Esporte soviético simplesmente respondeu que não existiam pessoas com deficiência na União Soviética, e, por isso, era impossível que fossem praticados esportes voltados para atletas com deficiências, inviabilizando a realização de qualquer torneio desse tipo naquele país. Diante dessa resposta pitoresca, a ISMGF procurou a Holanda, segundo lugar no quadro de medalhas em 1976, e perguntou se eles estariam dispostos a sediar a edição de 1980. Os holandeses aceitaram, e a sexta edição das Paralimpíadas, que, no material oficial, era chamadas, em inglês, de "Olimpiadas para Deficientes", e, em holandês, de Paralympische Zomerspelen ("Jogos de Verão Paralímpicos"), ocorreriam na cidade de Arnhem, entre 21 e 30 de junho, na segunda vez em que uma Paralimpíada foi realizada antes da Olimpíada do mesmo ano, já que os Jogos Olímpicos de Moscou só começariam em 19 de julho.

A Holanda aceitaria sediar a Paralimpíada, mas não aceitaria a participação da África do Sul; já em 1976, a delegação holandesa havia declarado que a participação sul-africana era "indesejável", e, após a confirmação de Arnhem como sede, o Parlamento Holandês passou uma moção de repúdio a receber os atletas sul-africanos. Os patrocinadores holandeses do evento também se mostraram contrários, e, temendo que a perda de patrocínio comprometesse a realização de futuras edições das Paralimpíadas, a ISMGF não teve outra opção a não ser proibir a África do Sul de participar dos Jogos de Stoke Mandeville e, subsequentemente, das Paralimpíadas. Os sul-africanos retornariam aos Jogos Paralímpicos apenas em 1992, após o fim do apartheid.

As Paralimpíadas de 1980 seriam a primeira edição na qual os paralisados cerebrais puderam participar. Ao todo, participariam 1973 atletas de 42 países, em 489 provas de 14 esportes - a sinuca sairia do programa, mas entraria a luta livre. Essa seria a primeira edição das Paralimpíadas com um mascote, ou melhor, dois, um casal de esquilos chamados Noggi e Joggi. Os Estados Unidos ficariam mais uma vez no topo do quadro de medalhas; a Polônia teria o mesmo número de ouros que os norte-americanos, mas menos pratas, e ficaria com a segunda colocação. Alemanha Ocidental, Canadá e Reino Unido fechariam o Top 5, com a Holanda anfitriã vindo em sexto. O Brasil enviaria apenas dois atletas a Arnhem, e não ganharia nenhuma medalha.

Desde meados da década de 1970, dentro da ISMGF, já havia um grande número de insatisfeitos com a realização das Paralimpíadas, que defendiam que os Jogos de Stoke Mandeville deveriam ser realizados sempre em Stoke Mandeville, e, mais importante, que deveriam ser reservados apenas a atletas cadeirantes, sem os deficientes visuais, amputados e paralisados cerebrais; seria para tentar agradar a esse grupo, inclusive, que as edições de 1976 e 1980 não se chamariam Jogos de Stoke Mandeville e não entrariam para a contagem. Em 1984, as Olimpíadas aconteceriam em Los Angeles, e a ISMGF entraria em contato com o comitê organizador dos Estados Unidos, que concordariam em receber as Paralimpíadas, mas, imitando Alemanha e Canadá, na cidade de Nova Iorque. Por alguma razão, isso foi um estopim para o grupo de insatisfeitos, que fez um grande estardalhaço exigindo que a edição de 1984 fosse realizada em Stoke Mandeville. A solução, portanto, foi fazer dois eventos: um em Stoke Mandeville, apenas para cadeirantes, e um em Nova Iorque, para amputados, deficientes visuais, paralisados cerebrais e les autres ("os outros", em francês), nessa última ficando os que não se enquadravam em nenhuma das outras quatro classes.

Oficialmente, o evento de Nova Iorque ganharia o nome de International Games for the Disabled, os "Jogos Internacionais para Deficientes", enquanto os de Stoke Mandeville seriam a 31a edição dos Jogos Internacionais Anuais de Stoke Mandeville; entretanto, antes mesmo do fim de 1984, por motivos que eu vou explicar em breve, ambas as edições passariam a ser oficialmente a sétima edição dos Jogos Paralímpicos, com a edição de 1985 dos Jogos Internacionais Anuais de Stoke Mandeville passando a ser a 31a - por causa disso, a sede dos Jogos Paralímpicos de 1984 costuma ser descrita como Nova Iorque–Stoke Mandeville ou Stoke Mandeville/Nova Iorque. O evento na cidade de Nova Iorque seria realizado entre 17 e 20 de junho (antes das Olimpíadas, que começariam em 28 de julho) e contaria com 1800 atletas representando 45 nações, que competiriam em 301 provas de 15 esportes. O de Stoke Mandeville seria realizado entre 22 de julho e 1 de agosto (o que faz com que essa seja a única edição das Paralimpíadas realizada concomitantemente com as Olimpíadas, embora apenas por cinco dias, já que as Olimpíadas só se encerrariam em 12 de agosto), e contaria com 1100 atletas, todos cadeirantes, de 41 nações, competindo em 603 provas de 10 esportes. Atualmente, dados como o programa, o número de atletas participantes, e até mesmo o quadro de medalhas, em todas as fontes, inclusive o site do IPC, consideram ambos os eventos como um só, então eu não tenho condições de dizer quais foram as diferenças entre um e outro, por exemplo, em relação a quais esportes estavam em cada programa, ou a quais nações participaram de cada um - não tenho como saber se o Brasil enviou atletas a ambos, mas imagino que sim.

O que eu posso dizer é que, em relação ao programa, sairia o dartchery, voltaria a sinuca, e entrariam a bocha, o ciclismo, a equitação, o futebol de sete e o powerlifting. Essa seria a primeira edição na qual a maratona faria parte do programa, mas apenas para cadeirantes, e apenas no masculino. Os Jogos de Nova Iorque teriam um mascote, o leão Dan D. Lion (um trocadilho com dandelion, o nome em inglês da flor dente-de-leão). No quadro de medalhas, os Estados Unidos viriam em primeiro e o Reino Unido ficaria em segundo, com Canadá, Suécia e Alemanha Ocidental fechando o Top 5. O Brasil teria um desempenho fantástico: enviando 30 atletas, sendo 25 deles do atletismo, conseguiria nada menos que 28 medalhas, sendo 7 de ouro, 17 de prata e 4 de bronze, ficando na 24a posição. Os maiores medalhistas do Brasil foram Luís Cláudio Pereira e Amintas Piedade, cada um ganhador de um ouro no arremesso de peso 1C, um no arremesso de dardo 1C, e uma prata no arremesso de disco 1C, além de uma prata no slalom 1C para Amintas e uma no pentatlo 1C para Luís. Ainda no atletismo, Maria Ferraz ganharia um ouro no arremesso de peso 1A e cinco pratas, nos 100 m 1A, 200 m 1A, 400 m 1A, 800 m 1A e slalom 1B; Márcia Malsar seria ouro nos 200 m C6, prata nos 1000 m cross country C6 e bronze nos 60 m C6; Anelise Hermany seria prata nos 100 m B2 e no salto em distância B2 e bronze nos 800 m B2; e João Graciano seria bronze nos 100 m 6. O único outro esporte que daria medalhas ao Brasil seria a natação, na qual Maria Jussara Matos seria ouro nos 200 m Medley 6 e prata nos 100 m Livre 6 e nos 100 m Peito 6; e Marcelo Amorim seria prata nos 100 m Costas 5, 100 m Peito 5 e 200 m Medley 5 e bronze nos 100 m Livre 5.

Agora vamos voltar um pouquinho até 1982, quando foi fundado o Comitê para Coordenação Internacional das Organizações Esportivas Mundiais para Deficientes (ICC), que contava com representantes de quatro federações esportivas para atletas com deficiências: a Federação Internacional de Esportes para Deficientes (ISOD), a Federação Internacional de Esportes para Cegos (IBSA), a Associação Internacional para Esportes e Recreação de Paralisados Cerebrais (CP-ISRA) e o Comitê Internacional de Esportes para Surdos (CISS). O intuito era diminuir o papel da ISMGF, que era essencialmente uma federação de esportes para cadeirantes, na organização das Paralimpíadas, que, desde 1976, já não eram uma competição exclusiva para cadeirantes. Após a confusão de 1984, o ICC recorreu ao COI, que decidiu intervir. Atuando como mediador entre o ICC e a ISMGF, o COI determinou que todas as edições realizadas em ano de Olimpíada passariam a ser retroativamente chamadas de Paralimpíadas, com a de 1960 passando oficialmente a se chamar I Jogos Paralímpicos, a de 1964 II Jogos Paralímpicos, e assim sucessivamente, até a de 1984, que seriam os VII Jogos Paralímpicos - e, como já foi dito, "uma coisa só", um único evento com duas sedes, Nova Iorque e Stoke Mandeville.

Mas o mais importante seria que o ICC passaria a ser parte da "família olímpica", se comprometendo a seguir todos os ideais da Carta Olímpica nas Paralimpíadas, e, em troca, recebendo total apoio do COI, por exemplo, na comunicação com os comitês olímpicos nacionais. Nesses termos, o COI se comprometeria a ajudar o ICC na organização dos VIII Jogos Paralímpicos, inclusive atuando junto ao comitê organizador da cidade escolhida para 1988, Seul, na Coreia do Sul, para que as mesmas instalações fossem usadas para Olimpíadas e Paralimpíadas, tal como havia ocorrido em 1960 e 1964. Assim, as Paralimpíadas de 1988, primeiras com o nome oficial de Jogos Paralímpicos, seriam realizadas na capital sul-coreana entre 15 e 24 de outubro, começando 13 dias após o fim das Olimpíadas; dali por diante, cada edição das Paralimpíadas começaria entre 12 e 20 dias depois da Olimpíada realizada no mesmo ano, sempre na mesma cidade-sede e usando as mesmas instalações.

Com o apoio do COI, o número de atletas participantes seria recorde, 3057 de 60 nações, sem contar duas que se envolveram em confusão: o Irã, em sua primeira participação paralímpica, foi desclassificado após se recusar a enfrentar Israel na primeira rodada do basquete em cadeira de rodas, e todos os atletas iranianos, de todos os esportes, decidiram arrumar suas coisas e voltar para seu país; e a Líbia não aceitou o convite do COI para participar, mas, mesmo assim, apareceu com sete atletas no dia da cerimônia de abertura - o ICC decidiria que eles poderiam participar como "observadores", sem direito a medalhas caso terminassem nas três primeiras posições de suas provas, o que não aconteceu. Vale citar também que em 1988 ocorreu a primeira participação paralímpica da União Soviética - que, aparentemente, tinha sim deficientes - que acabaria sendo também a última, já que o país se dissolveria três anos depois. Essa também seria a primeira edição das Paralimpíadas na qual os atletas de baixa estatura, aqueles com nanismo e outras condições assemelhadas, puderam competir.

Os mascotes das Paralimpíadas de 1988 seriam dois ursinhos, com as pernas amarradas e um deles segurando um bastão do tipo usado nas provas de revezamento do atletismo; a rigor, os ursinhos não tinham nome, mas acabaram sendo conhecidos como Gomdoori ou Komduri, palavras que, na verdade, não são nomes próprios, e sim duas formas diferentes de transliterar a palavra coreana usada para "urso de pelúcia". Os responsáveis pela parte gráfica das Olimpíadas e Paralimpíadas de 1988 ficariam tão empolgados que decidiriam inventar também um símbolo para o ICC, que consistia em cinco "gotas", no mesmo formato da metade de baixo do taeguk, o símbolo que está no centro da bandeira sul-coreana; essas gotas usavam as mesmas cores e estavam nas mesmas posições que os anéis olímpicos, e seriam usadas como símbolo do movimento paralímpico até 1994, quando o IPC decidiria usar apenas três gotas, nas cores azul, vermelha e verde, dispostas em formato de triângulo. Esse novo símbolo seria usado até 2003.

O programa das Paralimpíadas de 1988 contaria com 732 provas de 18 esportes - sairiam equitação e luta livre, entraria o judô; o tênis em cadeira de rodas também faria parte do programa, mas como esporte de demonstração. O topo do quadro de medalhas ficaria, adivinhem, com os Estados Unidos, seguido da Alemanha Ocidental, Reino Unido, Canadá, França, Suécia, e a Coreia do Sul anfitriã vindo em sétimo. O Brasil enviaria 59 atletas e conseguiria 28 medalhas, terminando na 26a posição com 4 ouros, 9 pratas e 15 bronzes. No atletismo, Luís Cláudio Pereira seria ouro no arremesso do peso 1C, do dardo 1C e do disco 1C e prata no pentatlo 1C; Ádria Santos seria prata nos 100 m B2 e nos 400 m B2; Anelise Hermany prata nos 800 m B2 e bronze nos 400 m B2; Márcia Malsar prata nos 100 m C6; César Antônio Gualberto prata nos 400 m B1; Elmo Ribeiro prata nos 400 m B2; Cláudio Nunes prata no lançamento de dardo C6; Marcelino Paes bronze nos 100 m B2; Iranilson Oliveira bronze nos 100 m 5-6; Sebastião Antônio Neto bronze no arremesso de peso C6; e Carlos Roberto Sestrem seria bronze na maratona B2. Na natação, Graciana Moreira seria ouro nos 100 m Livre 6 e bronze nos 100 m Peito 6 e nos 100 m Borboleta 6; Maria Jussara Matos prata nos 100 m Borboleta 6 e bronze nos 100 m Livre 6; Leandro Ramos bronze nos 100 m Borboleta L6; e Fábio Ricci bronze nos 100 m Livre 1C, 25 m Costas 1C e 25 m Peito 1C. E o Brasil ganharia suas primeiras medalhas no judô, bronzes com Jaime de Oliveira na categoria até 60 kg, Júlio Silva na até 65 kg, e Leonel Cunha Filho na acima de 95 kg.

1989 não foi ano de Paralimpíada, mas foi mais um ano importante para o movimento paralímpico, pois seria o ano de fundação do IPC, o Comitê Paralímpico Internacional. Por mais que a mudança da ISMGF para o ICC tenha sido um avanço, o movimento paralímpico não queria ficar atrelado ao COI, e, logo após as Paralimpíadas de 1988, começaria a se organizar, com a ajuda do próprio COI, para que as Paralimpíadas pudessem ser realizadas por uma entidade independente e totalmente comprometida com o esporte paralímpico. Após a fundação do IPC, o COI auxiliaria na criação dos comitês paralímpicos nacionais, que substituiriam os comitês olímpicos nacionais como representantes de cada nação participante das Paralimpíadas; cada nação fundou seu comitê paralímpico a seu próprio tempo, mas, nas Paralimpíadas de 1996, todas as nações já seriam representadas por seus respectivos comitês paralímpicos. Falando nisso, como as Paralimpíadas de 1992 já estavam muito próximas, ficou acertado que elas ainda seriam organizadas pelo ICC, com a primeira edição organizada pelo IPC sendo as Paralimpíadas de Inverno de 1994.

Além de organizar as Paralimpíadas, as Paralimpíadas de Inverno e os Jogos Paralímpicos da Juventude, e de congregar várias entidades relacionadas ao movimento paralímpico (incluindo a IWAS, a IBSA e a CP-ISRA; a CISS brigaria com o IPC ainda em 1989 e cortaria todos os laços com eles em 1995, sendo essa uma das razões pelas quais surdos não competem nas Paralimpíadas), o IPC ainda atua como federação internacional, regulando e organizando torneios, do atletismo, da natação, do powerlifting, do tiro esportivo, da dança esportiva e dos esportes de inverno paralímpicos (exceto o curling). Seu primeiro presidente foi o canadense Robert Steadward, entre 1989 e 2001, seguido pelo britânico Sir Philip Lee Craven, que foi atleta paralímpico do basquete em cadeira de rodas, entre 2001 e 2017; desde 2017, o presidente do COI é o brasileiro Andrew Parsons. Sob a presidência de Craven, em 2003, o IPC criaria um novo símbolo, com três curvas que representam o movimento, conhecidas como agitos, nas cores verde, azul e vermelha; esse símbolo seria ligeiramente modificado em 2019, mas é o símbolo oficial do movimento paralímpico até hoje.

Pois bem, voltando às Paralimpíadas, chegamos à edição de 1992, última organizada pelo ICC, que, como aconteceria com todas a partir de 1988, seria realizada na mesma sede das Olimpíadas daquele ano, Barcelona, na Espanha. É importante dizer que, ao contrário do que muitos pensam, a mesma cidade ser sede das Olimpíadas e Paralimpíadas, inicialmente, não era garantido, com o IPC e o COI tendo que negociar individualmente os contratos com as sedes de 1996, 2000 e 2004; somente em 2001 as duas entidades firmariam um acordo que ficaria conhecido como one bid, one city, segundo o qual, a partir da edição de 2008, toda cidade que se candidata a sede das Olimpíadas também está se candidatando automaticamente a sede das Paralimpíadas, e deverá organizar ambas as competições se for escolhida.

As Paralimpíadas de 1992, entretanto, assim como as de 1984, acabariam sendo dois eventos ao invés de um, em duas sedes diferentes. O motivo foi que a Associação Internacional de Esportes para Deficientes Intelectuais (INAS) já vinha pleiteando há algum tempo a inclusão de provas para atletas com deficiências intelectuais nas Paralimpíadas, e, ao se filiar ao IPC em 1989, achou que em 1992 finalmente elas estreariam, inclusive preparando o programa e os eventos classificatórios. Só que as Paralimpídas de 1992 foram organizadas pelo ICC, do qual a INAS não era membro, e que não aceitou a inclusão das provas para deficientes intelectuais. A INAS, então, organizaria um evento próprio, o qual chamaria de Jogos Paralímpicos para Pessoas com Deficiências Intelectuais, realizados em Madrid e começando imediatamente após o fim das Paralimpíadas. Para o IPC, que incluiria provas para deficientes intelectuais nas Paralimpíadas em 1996, ambos os eventos são as Paralimpíadas de 1992, com a sede sendo oficialmente Barcelona-Madrid, e o programa, quadro de medalhas etc. sendo unificados.

Os Jogos de Barcelona seriam realizados entre 3 e 14 de setembro, e contariam com 3020 atletas de 82 nações, que disputariam 487 provas de 18 esportes, com os lawn bowls sendo substituídos pelo tênis em cadeira de rodas, que entrou para o programa oficial; seu mascote seria Petra, uma menininha sem braços desenhada no estilo cubista, criada por Javier Mariscal, mesmo criador do Cobi, o mascote das Olimpíadas. Já os Jogos de Madrid seriam realizados entre 15 e 22 de setembro, começando no dia seguinte ao encerramento das Paralimpíadas, e contariam com a presença de 1600 atletas de 75 nações competindo em 68 provas de 5 esportes (atletismo, natação, tênis de mesa, basquete e futebol indoor). 54 nações, incluindo o Brasil, enviariam delegações para ambos os eventos; 28 participariam apenas de Barcelona, e 21 apenas de Madrid. A África do Sul finalmente seria autorizada a voltar a competir nas Paralimpíadas, a Alemanha competiria pela primeira vez após a reunificação, e sete ex-repúblicas soviéticas competiriam juntas sob o nome de Equipe Unificada. Essa também foi a primeira Paralimpíada a contar com a participação dos Participantes Paralímpicos Independentes, no caso 16 atletas da Iugoslávia, que foi suspensa de todas as competições internacionais devido a infrações aos direitos humanos cometidos durante a dissolução do país.

No quadro de medalhas, os Estados Unidos mais uma vez ficariam em primeiro, seguidos da Alemanha, do Reino Unido, da anfitriã Espanha, que terminou em quarto, e da Austrália. O Brasil enviaria 41 atletas e conquistaria 4 ouros, 3 pratas e 5 bronzes, terminando em 31o lugar. Todas as medalhas de ouro do Brasil viriam do atletismo: Luís Cláudio Pereira no arremesso de peso THW4, Suely Guimarães no arremesso de disco THW7, Ádria Santos nos 100 m B2, e Joel da Silva nos 400 m ID. Joel também seria prata nos 100 m ID, Haroldo Ribeiro seria prata no arremesso de peso ID, Ester Ramos Pereira prata no salto em distância ID, Sebastião Antônio Neto bronze no arremesso de bastão C6, e a equipe feminina seria bronze no revezamento 4 x 100 m ID. Além do atletismo, somente a natação daria medalhas, 3 bronzes, ao Brasil, com Genezi Andrade nos 50 m Costas S3, Eduardo Wanderley nos 50 m Borboleta S3-4, e Ivanildo Vasconcelos nos 200 m Medley SM6.

Entre as Paralimpíadas de 1992 e 1996, ocorreria uma mudança importantíssima na maneira como os atletas eram classificados. Até então, ocorria a chamada classificação médica, com o único fator considerado ao determinar em quais provas cada atleta poderia competir sendo sua condição médica. Assim, havia uma prova própria para atletas cadeirantes com lesão na coluna vertebral, e outra para atletas cadeirantes que tivessem ambas as pernas amputadas acima dos joelhos, pois suas condições médicas eram diferentes. A partir dos anos 1980, embora ninguém tenha como precisar quando, já que foi uma mudança gradual, passaria a ser usada em vários esportes a classificação funcional, segundo a qual os atletas são classificados por seu desempenho, independentemente de sua condição. Assim, um cadeirante com lesão da coluna vertebral, um cadeirante biamputado e um cadeirante paralisado cerebral podem todos competir na mesma prova, desde que seu desempenho nela seja semelhante. Em outras palavras, não importa a razão pela qual o atleta possui uma deficiência, e sim o impacto que essa deficiência tem em sua prática esportiva. A única exceção a esse sistema, até hoje, são os deficientes visuais, que possuem classes próprias, e não podem competir junto a outros tipos de atletas. A classificação deve ser feita por profissionais da saúde, e cada federação esportiva tem suas próprias classes e critérios, já que cada esporte possui suas particularidades. As Paralimpíadas de 1992 seriam as últimas a usar a classificação médica, com a classificação funcional sendo usada a partir de 1996.

As Paralimpíadas de 1996, realizadas em Atlanta, Estados Unidos, seriam as primeiras Paralimpíadas de Verão organizadas pelo IPC. Seriam, também, a primeira com um contrato de TV, com a NBC, o que fez com que essa fosse a primeira edição a ser transmitida ao vivo para os Estados Unidos; muitos outros países, especialmente os europeus, também puderam assistir as competições, ao vivo ou de forma gravada, inclusive o Brasil - e o país onde o evento teve a maior audiência foi a Alemanha. O mascote dos Jogos foi uma fênix, Blaze, desenhada para se assemelhar ao fogo paralímpico; além de ter sido escolhida por sua óbvia simbolgia do renascimento, a fênix é o símbolo da cidade de Atlanta desde o final da Guerra de Secessão.

Os Jogos de Atlanta, oficialmente a décima edição das Paralimpíadas, seriam realizados entre 16 e 25 de agosto; deles participariam 3259 atletas de 104 nações, que competiriam em 508 provas de 19 esportes - a equitação e os lawn bowls voltariam, e o levantamento de peso sairia; raquetebol, rugby em cadeira de rodas e vela também estariam no programa, mas como esportes de demonstração. Os Estados Unidos ficariam com o topo do quadro de medalhas, por enquanto pela última vez, seguidos da Austrália, da Alemanha, do Reino Unido e da Espanha. O Brasil, que enviaria 60 atletas, terminaria em 37o, com 2 ouros, 6 pratas e 13 bronzes. Os maiores medalhistas brasileiros dessa edição seriam Ádria Santos, com 3 pratas, nos 100 m T10, 200 m T10 e 400 m T10 do atletismo; Douglas Amador, também do atletismo, com uma prata nos 200 m T37, e dois bronzes, nos 100 m T37 e no salto em distância F34-37; e Genezi Andrade, da natação, prata nos 150 m Medley SM3 e bronze nos 100 m Livre S3 e 200 m Livre S3. A prata que falta viria com Josias Lima, do atletismo, no arremesso de peso F52. Os demais bronzes viriam do atletismo, dois com Maria José Alves, nos 100 m T11 e 200 m T11, um com Anderson Santos no arremesso de disco F36, e um com Suely Guimarães, no arremesso de disco F55-57; e da natação, dois com Adriano Pereira, nos 50 m e 100 m Livre S2, um com Adriano Lima, nos 50 m Livre S6, um com Ivanildo Vasconcelos, nos 100 m Peito SB4, e um com Gledson Soares, nos 200 m Medley SM7. E os ouros viriam com José Arnulfo Medeiros, nos 50 m Borboleta S7 da natação, e Antônio Tenório, na categoria até 86 kg do judô.

Em 2000, as Paralimpíadas seriam disputadas pela primeira vez no hemisfério sul - mas por pouco isso não se concretizaria. A cidade de Sydney, escolhida para sediar as Olimpíadas daquele ano, não demonstrou o menor interesse em sediar também as Paralimpíadas, e só aceitou se reunir com o IPC após muita insistência da secretária do Comitê Paralímpico Australiano, Adrienne Smith. Graças a Smith, não somente a cidade aceitaria sediar o evento, mas essa seria a primeira Paralimpíada na qual o comitê organizador garantiria igualdade de tratamento entre os atletas olímpicos e paralímpicos, inclusive com os atletas paralímpicos podendo ficar hospedados na Vila Olímpica, o que se tornaria o padrão para as Paralimpíadas subsequentes. Apesar dessa grande vitória de Smith, o governo parecia querer continuar ignorando solenemente as Paralimpíadas, o que levou a uma série de decisões controversas, como a retirada dos anéis olímpicos da Harbour Bridge ter sido marcada para o mesmo dia do início do revezamento da tocha paralímpica, e uma cerimônia em homenagem aos voluntários das Olimpíadas ter sido marcada para o mesmo dia e hora em que a tocha paralímpica chegaria à cidade, o que fez com que ambos os eventos fossem esvaziados. Mas a ação que pior repercutiu na mídia ocorreu logo após os organizadores das Paralimpíadas anunciarem que, na cerimônia de abertura paralímpica, a cantora australiana Kylie Minogue se apresentaria junto à banda indígena Yothu Yindi, o que foi amplamente anunciado pela imprensa local, e rendeu muitos elogios às Paralimpíadas: talvez com inveja, talvez querendo obscurecer o fato, no mesmo dia o comitê organizador das Olimpíadas anunciaria que também tinha convidado Minogue e a Yothu Yindi para se apresentarem na cerimônia de abertura Olímpica, o que foi rapidamente desmentido pela cantora, que inclusive estaria em turnê pela Europa no dia da cerimônia.

Os Jogos de 2000 seriam realizados entre 18 e 29 de outubro, e contariam com a presença de 3881 atletas de 121 nações, incluindo dois de Timor Leste que competiram como Participantes Paralímpicos Independentes. O mascote seria Lizzie, um lagarto-de-colarinho, animal típico do deserto australiano. O programa contaria com 551 provas de 21 esportes - os lawn bowls sairiam, o rugby em cadeira de rodas e a vela passariam a ser parte do programa oficial, e o basquete para deficientes intelectuais seria adicionado. Aliás, Sydney seria palco de um grande escândalo, que faria com que os atletas com deficiência intelectual ficassem de fora das duas edições seguintes: pouco tempo após o encerramento dos Jogos, Fernando Vicente Martin, chefe da delegação paralímpica da Espanha, confessaria ter falsificado laudos de vários atletas, para que eles pudessem competir como deficientes intelectuais mesmo sem ter deficiência alguma, incluindo os de 10 dos 12 jogadores do time de basquete, que ganharia a medalha de ouro. Martin seria banido do esporte, todos os espanhóis medalhistas em provas para deficientes intelectuais perderiam suas medalhas, e o IPC decidiria remover as provas para deficientes intelectuais do programa até que fossem criadas formas mais seguras e precisas de se avaliar a deficiência intelectual, com essas provas só voltando ao programa - exceto o basquete - nas Paralimpíadas de 2012. Além desse escândalo, 2000 seria o ano no qual o maior número de atletas paralímpicos seriam desclassificados por doping, com dez homens e uma mulher tendo seus resultados anulados.

No quadro de medalhas, a Austrália anfitriã terminaria em primeiro, seguida do Reino Unido, e então Canadá, Alemanha, e os Estados Unidos somente em quinto. O Brasil enviaria 63 atletas e terminaria na 24a posição, com 6 ouros, 10 pratas e 6 bronzes. No atletismo, Ádria Santos conseguiria dois ouros, nos 100 m T12 e 200 m T11, e uma prata nos 400 m T11 do atletismo; Roseane Santos seria ouro no arremesso do disco F58 e no arremesso do peso F58; André Andrade seria prata nos 100 m T13 e nos 200 m T13; Antônio Souza prata nos 400 m T46; e Anderson Santos bronze no arremesso de disco F37. Na natação, Fabiana Sugimori seria ouro nos 50 m Livre S11; Clodoaldo Silva seria prata nos 100 m Livre S4 e bronze nos 50 m Livre S4; Luís Silva prata nos 50 m Borboleta S6; Mauro Brasil prata nos 50 m Livre S9; Adriano Gomes prata nos 100 m Livre S6; Danilo Glasser bronze nos 50 m Livre S10; Genezi Andrade bronze nos 150 m Medley SM3; os revezamentos 4 x 50 m Livre 20 pts e 4 x 50 m Medley 20 pts seriam prata; e o revezamento 4 x 100 m Livre 34 pts seria bronze. Antônio Tenório conquistaria seu segundo ouro no judô, na categoria até 90 kg, e o futebol de sete seria bronze, primeira medalha do Brasil em um esporte coletivo.

As Paralimpíadas de 2004 seriam realizadas em Atenas, entre 17 e 28 de setembro, e teriam como mascote o cavalo marinho Proteas. Participariam 3806 atletas de 135 nações, competindo em 519 provas de 20 esportes - sairiam o basquete para deficientes intelectuais e o vôlei de pé, mas estrearia o futebol de cinco. Essa edição marcaria a despedida da maior atleta paralímpica de todos os tempos, a norte-americana Trischa Zorn, da natação para deficientes visuais, que, entre 1980 e 2004, ganharia nada menos que 55 medalhas paralímpicas, sendo 41 de ouro. No quadro de medalhas, a China ficaria em primeiro, seguida do Reino Unido, e então Canadá, Estados Unidos e Austrália; a Grécia seria o pior anfitrião da história, vindo apenas em 34o. O Brasil levaria 96 atletas e terminaria na 14a posição com 14 ouros, 12 pratas e 7 bronzes. Na natação, Clodoaldo Silva conseguiria nada menos que seis ouros, nos 50 m, 100 m e 200 m Livre S4, 50 m Borboleta S4, 150 m Medley SM4 e revezamento 4 x 50 m Medley 20 pts, além de uma prata no revezamento 4 x 50 m Livre 20 pts; Fabiana Sugimori repetiria seu ouro nos 50 m Livre S11; Ivanildo Vasconcelos seria prata nos 100 m Peito SB4; Edenia Garcia prata nos 50 m Costas S4; e Francisco Avelin seria bronze nos 100 m Peito SB4. No atletismo, Ádria Santos seria ouro nos 100 m T11 e prata nos 200 m T11 e 400 m T12; André Andrade seria ouro nos 200 m T13 e prata nos 100 m T13; Antônio Souza ouro nos 200 m T46 e nos 400 m T46; Suely Guimarães ouro no arremesso de disco F56-58; Odair Santos ganharia duas pratas, nos 1500 m T13 e 5000 m T12, e um bronze, nos 800 m T12; Gilson Anjos seria prata nos 800 m T13; Maria José Alves ganharia dois bronzes, nos 100 m T12 e 200 m T12; Ozivam Bonfim seria bronze nos 5000 m T46; e Terezinha Guilhermino bronze nos 400 m T12. No judô, Antônio Tenório, agora na categoria até 100 kg, ganharia seu terceiro ouro seguido; Eduardo Amaral, na até 73 kg, e Karla Cardoso, na até 48 kg, seriam prata; e Daniele Silva, na até 57 kg, seria bronze. O futebol de cinco brasileiro daria início a uma caminhada vitoriosa com seu primeiro ouro nessa edição, enquanto o futebol de sete ficaria com a prata.

Pequim seria a primeira cidade escolhida pelo processo do one bid, one city, para sediar tanto as Olimpíadas quanto as Paralimpíadas de 2008, que aconteceriam entre 6 e 17 de setembro, contando com a participação de 3951 atletas de 146 países, que competiram em 472 provas de 20 esportes - os mesmos da edição anterior, na primeira vez em que isso aconteceu. O mascote seria uma vaquinha, Fu Niu Lele, cujo nome pode ser traduzido para "vaquinha feliz e sortuda". A China dominaria o quadro de medalhas, terminando com mais que o dobro de ouros do segundo colocado, o Reino Unido. Estados Unidos, Ucrânia e Austrália fecharam o Top 5, e o Brasil, que enviou 188 atletas, terminou pela primeira vez no Top 10, em nono, com 16 ouros, 14 pratas e 17 bronzes. Os maiores destaques vieram da natação: Daniel Dias ganharia quatro ouros, nos 100 m e 200 m Livre S5, 50 m Costas S5 e 200 m Medley SM5, quatro pratas, nos 50 m Livre S5, 50 m Borboleta S5, 100 m Peito SB4 e revezamento 4 x 50 m Medley 20 pts, e um bronze, no revezamento 4 x 50 m Livre 20 pts; André Brasil também ganharia quatro ouros, nos 50 m, 100 m e 400 m Livre S10 e nos 100 m Borboleta S10, e uma prata, nos 200 m Medley SM10; Phelipe Rodrigues ganharia duas pratas, nos 50 m e 100 m Livre S10; e as mulheres ganhariam três bronzes nos 50 m Livre, com Fabiana Sugimori na S11, Verônica Almeida na S7, e Edênia Garcia na S4. No atletismo, Ádria Santos aumentaria sua coleção com um bronze nos 100 m T11; Lucas Prado seria ouro nos 100 m T11, 200 m T11 e 400 m T11; Terezinha Guilhermino ganharia uma medalha de cada cor, ouro nos 200 m T11, prata nos 100 m T11 e bronze nos 400 m T12; a equipe masculina seria prata no revezamento 4 x 100 m T42-46; Tito Sena prata na maratona T46; Shirlene Coelho prata no lançamento de dardo F35-38; Odair Santos ganharia três bronzes, nos 800 m T12, 5000 m T13 e 10000m T12; Yohansson Nascimento bronze nos 100 m T46; e Jerusa Santos bronze nos 200 m T11. No judô, Antônio Tenório, categoria até 100 kg, ganharia seu quarto ouro seguido, Karla Cardoso, até 48 kg, e Deanne Silva, acima de 70 kg, seriam prata, e Michele Ferreira, até 52 kg, e Daniele Silva, até 57 kg, bronze. A seleção de futebol de cinco ganharia seu segundo ouro seguido, e o Brasil ganharia suas primeiras medalhas no tênis de mesa, prata com Welder Knaf e Luiz Agacir Silva nas duplas C3; na equitação, dois bronzes com Marcos Alves, no Individual Ib e no Estilo Livre Ib; no remo, com Elton Santana e Josiane Lima nos double sculls misto TA; e na bocha: Dirceu Pinto e Eliseu Santos foram ouro nas duplas BC4, com Dirceu sendo ouro e Elizeu bronze no individual BC4.

Em 2012, as Paralimpíadas seriam realizadas em Londres; devido à ligação do Reino Unido com as origens do esporte paralímpico, o povo, o governo e a imprensa se mostraram empolgadíssimos com o evento, com os organizadores inclusive lançando a campanha Paralympics are coming home (algo como "as Paralimpíadas estão voltando para casa"). Essa seria a primeira edição das Paralimpíadas com uma campanha de marketing tão grande quanto a das Olimpíadas, o que se refletiria em recorde de venda de ingressos, recorde de audiência nas provas transmitidas ao vivo pelo Channel 4, recorde de interesse da imprensa internacional na cobertura do evento, e ao fato de que muitos atletas paralímpicos, como o sul-africano Oscar Pistorius e o brasileiro Daniel Dias, seriam alçados a um nível de popularidade comparável ao dos atletas olímpicos. Na cerimônia de encerramento, o presidente do IPC, o britânico Sir Philip Craven, declararia que essa foi a melhor edição das Paralimpíadas em todos os tempos.

As Paralimpíadas de 2012 seriam realizadas entre 29 de agosto e 9 de setembro, e contariam com a presença de 4302 atletas de 164 países, competindo em 503 provas de 20 esportes, mais uma vez os mesmos da edição anterior. Com critérios mais rigorosos de avaliação, os deficientes intelectuais puderam voltar a competir, e, a partir dessa edição, os guias dos deficientes visuais, no atletismo e ciclismo, os assistentes na bocha, e o goleiro do futebol de cinco (único atleta do time que enxerga) passariam a eles também receber medalhas junto aos atletas que acompanhavam. O mascote seria uma gota de aço, semelhante ao mascote das Olimpíadas, batizado como Mandeville em homenagem à cidade de Stoke Mandeville.

No quadro de medalhas, a China ficaria mais uma vez no topo, seguida da Rússia e do Reino Unido anfitrião. Pela primeira vez, os Estados Unidos ficariam fora do top 5, em sexto, atrás de Ucrânia e Austrália; o Brasil, que enviaria 189 atletas, viria logo atrás dos norte-americanos, em sétimo, com 21 ouros, 14 pratas e 8 bronzes. Os maiores medalhistas do Brasil mais uma vez viriam da natação: Daniel Dias ganharia nada menos que seis ouros, nos 50 m, 100 m, e 200 m Livre S5, 50 m Borboleta S5, 50 m Costas S5 e 100 m Peito SB4, enquanto André Brasil ganharia três ouros, nos 50 m e 100 m Livre S10 e 100 m Borboleta S10, e duas pratas, nos 100 m Costas S10 e 200 m Medley SM10. Edênia Garcia seria prata nos 50 m Costas S4, Phelipe Rodrigues prata nos 100 m Livre S10, e Joana Maria Silva bronze nos 50 m Borboleta S5. No atletismo, Terezinha Guilhermino seria ouro nos 100 m T11 e 200 m T11; Yohansson Nascimento ouro nos 200 m T46 e prata nos 400 m T46; Felipe Gomes ouro nos 200 m T11 e bronze nos 100 m T11; Alan Fonteles ouro nos 200 m T44; Tito Sena ouro na maratona T46; Shirlene Coelho ouro no lançamento do dardo F37-38; Jerusa Gerber prata nos 100 m T11 e 200 m T11; Lucas Prado prata nos 100 m T11 e 400 m T11; Odair Santos prata nos 1500 m T11; Daniel Silva prata nos 200 m T11; Jhulia Santos bronze nos 100 m T11; Claudiney Batista prata no lançamento de dardo F57-58; e Jonathan de Souza Santos bronze no arremesso de disco F40. No judô, Antônio Tenório ganharia sua quinta medalha paralímpica seguida, um bronze na categoria até 100 kg, Lúcia Teixeira seria prata na até 57 kg, e Michele Ferreira na até 52 kg e Daniele Milan na até 63 kg seriam bronze. Na bocha, Dirceu Pinto e Eliseu dos Santos repetiriam as medalhas de quatro anos antes: ouro nas duplas BC4, ouro para Dirceu e bronze para Eliseu no individual BC4, e Maciel Souza Santos seria ouro no individual BC2. Jovane Guissone ganharia a primeira medalha brasileira na esgrima em cadeira de rodas, ouro na espada classe B. O futebol de cinco ganharia seu segundo ouro seguido, e o golbol masculino seria prata.

Em 2016, as Paralimpíadas chegariam ao Rio de Janeiro, evolvidas em mais uma controvérsia: alegando precisar cortar custos, devido a falta de interesse dos patrocinadores e baixa venda de ingressos, o comitê organizador teve de suspender parte do auxílio que os comitês paralímpicos nacionais mais pobres recebem do país-sede para enviar seus atletas, e mudar algumas provas de local, para poder desativar locais de competição usados nas Olimpíadas; isso gerou um temor de que as Paralimpíadas pudessem ser canceladas total ou parcialmente, que tiveram de ser desmentidos várias vezes por Sir Craven e pelo prefeito da cidade, Eduardo Paes. No fim, conforme os Jogos se avizinhavam, o interesse da população pelo evento se acendeu e a venda de ingressos aumentou, fazendo, inclusive, com que as Paralimpíadas de 2016 fossem a segunda a vender mais ingressos, atrás apenas das de 2012.

As Paralimpíadas de 2016 aconteceriam entre 7 e 18 de setembro. O mascote seria Tom, que representava todas as plantas da flora brasileira. Participariam 4342 atletas, representando 159 delegações; a Rússia, devido a um escândalo de manipulação de testes anti-doping pelo seu governo durante as Olimpíadas de Inverno de 2014, seria proibida de participar - diferentemente do que ocorreu nas Olimpíadas do mesmo ano, nem mesmo os atletas que provassem não ter envolvimento com doping não receberiam autorização - e, pela primeira vez na história das Paralimpíadas, ocorreria a participação de um time de refugiados, composto por dois atletas, um da Síria e um do Irã, que competiram sob o nome de Atletas Paralímpicos Independentes. Infelizmente, essa seria a primeira edição de uma Paralimpíada na qual um atleta perderia a vida, o ciclista iraniano Bahman Golbarnezhad, que se chocou contra uma rocha e teve traumatismo craniano, falecendo a caminho do hospital; ele seria homenageado na cerimônia de premiação do vôlei sentado, esporte no qual o Irã ganharia a medalha de ouro, e com um minuto de silêncio durante a Cerimônia de Encerramento.

O programa contaria com 528 provas de 22 esportes, os dois novos sendo a canoagem e o triatlo. O topo do quadro de medalhas ficaria mais uma vez com a China, seguida do Reino Unido, e o Top 5 sendo completado por Ucrãnia, Estados Unidos e Austrália. O Brasil, competindo em casa, pré-classificado para todos os esportes e com a maior delegação de sua história, 285 atletas, planejava terminar pela primeira vez no Top 5, mas teria desempenho pior que em Londres, terminando em oitavo com 14 ouros, 29 pratas e 29 bronzes. O esporte que mais daria medalhas de ouro ao Brasil seria o atletismo, com oito: Alessandro Rodrigo Silva no arremesso de disco F11, Claudiney Batista no arremesso de disco F56, Daniel Martins nos 400 m T20, Petrúcio Ferreira nos 100 m T47, Ricardo Costa de Oliveira no salto em distância T11, Shirlene Coelho no lançamento de dardo F37, Silvânia Oliveira no salto em distância T11, e a equipe masculina no revezamento 4 x 100 m T11-13. Dentre as pratas, teríamos Petrúcio nos 400 m T47, Shirlene no arremesso de disco F38, Mateus Evangelista no salto em distância T47, a equipe masculina no revezamento 4 x 100 m T42-47, a equipe feminina no revezamento 4 x 100 m T11-13, duas de Fábio Bordignon, nos 100 m T35 e 200 m T35, duas de Odair Santos, nos 1500 m T11 e 5000 m T11, e três de Felipe Gomes, nos 100 m T11, 200 m T11 e 400 m T11. Rodrigo Parreira seria prata no salto em distância T36 e bronze nos 100 m T36, Verônica Hipólito prata nos 100 m T38 e bronze nos 400 m T38, e teríamos os bronzes de Terezinha Guilhermino nos 400 m T11, Yohansson Nascimento nos 100 m T47, Daniel Silva nos 200 m T11, Edson Pinheiro nos 100 m T38, Izabela Campos no arremesso de disco F11, Lorena Salvatini Spoladore no salto em distância T11, Marivana Oliveira no arremesso de peso F35, Teresinha de Jesus Correia nos 100 m T47, e Edneuza Dorta na maratona T12. Daniel Dias, da natação, seria mais uma vez o maior medalhista brasileiro, com quatro ouros, nos 50 m, 100 m e 200 m Livre S5 e 50 m Costas S5; três pratas, nos 100 m Peito SB4, revezamento 4 x 50 m Livre 20 pts e revezamento 4 x 100 m Livre 34 pts; e dois bronzes, nos 50 m Borboleta S5 e no revezamento 4 x 100 m Medley 34 pts. André Brasil seria prata nos 100 m Livre S10 e bronze nos 100 m Borboleta S10; Phelipe Rodrigues prata nos 50 m Livre S10 e bronze nos 100 m Livre S10; Joana Maria Silva prata nos 50 m Livre S5 e bronze nos 100 m Livre S5; Carlos Farrenberg prata nos 50 m Livre S13; Ítalo Pereira bronze nos 100 m Costas S7; Matheus Souza bronze nos 400 m Livre S11; e Talisson Glock bronze nos 200 m Medley SM6.

O Brasil ganharia suas primeiras medalhas no ciclismo, com Lauro César Chaman, duas pratas, na prova de estrada C4-5 e na prova contra o relógio C5; no powerlifting, com Evânio da Silva, categoria até 88 kg; e na canoagem, com Caio Ribeiro no KL3. A bocha traria mais um ouro, com Antônio Leme e Evelyn de Oliveira nas duplas mistas BC3; Dirceu Pinto e Eliseu dos Santos, das duplas BC4, terminariam com a prata. No judô, Antônio Tenório conquistaria sua sexta medalha paralímpica seguida, uma prata na categoria até 100 kg; também seriam prata Lúcia Teixeira na até 57 kg, Alana Maldonado na até 70 kg, e Willians Araújo na acima de 100 kg. Na equitação, Sérgio Fróes ganharia dois bronzes, no individual Ia e no estilo livre Ia. O tênis de mesa traria uma prata, com Israel Stroh na C7, e três bronzes, com Bruna Alexandre na C10, a equipe masculina na C1-2 e a equipe feminina na C6-10. O futebol de sete, o golbol masculino e o vôlei sentado feminino seriam bronze, e o futebol de cinco ganharia seu terceiro ouro seguido.

A mais recente edição das Paralimpíadas foi a de 2020, em Tóquio, que, por causa da pandemia, foi adiada em um ano, sendo realizada entre 24 de agosto e 5 de setembro de 2021, mas, assim como as Olimpíadas, mantendo a marca "Tokyo 2020". Essa seria a primeira edição das Paralimpíadas realizada em um ano ímpar, e a primeira a não ser realizada em um ano bissexto; além disso, Tóquio seria a primeira cidade a receber duas edições das Paralimpíadas, já que as recebeu em 1964 - e será a única durante um bom tempo, já que as duas sedes seguintes, Paris e Los Angeles, já sediaram duas Olimpíadas cada, mas nenhuma Paralimpíada. Todos os protocolos sanitários observados durante as Olimpíadas também estiveram em vigor durante as Paralimpíadas, o que incluiu a proibição de público nos estádios, ginásios e outros locais de competição, com somente as provas ao ar livre, como a maratona e o triatlo, podendo ter espectadores. O mascote seria Someity, e seria inspirada na flor da cerejeira.

Ao todo, participariam 4403 atletas de 162 delegações. Assim como ocorreu com as Olimpíadas, a Rússia foi proibida de participar, mas os atletas russos que comprovassem jamais ter tido envolvimento com doping puderam competir sob o nome de Comitê Paralímpico Russo, usando a bandeira do Comitê no lugar da bandeira russa e um trecho do Concerto para Piano Número 1, de Tchaikovsky, no lugar do hino. Essa seria a primeira edição das Paralimpíadas a contar com a presença da Equipe Paralímpica de Refugiados, que contaria com seis atletas (dois da Síria, um do Burundi, um do Irã e um do Afeganistão) que não puderam competir por seus países de origem por serem vítimas de perseguição étnica, política ou religiosa. Cinco países não enviariam atletas a Tóquio alegando dificuldades impostas pela pandemia: Coreia do Norte, Kiribati, Samoa, Tonga e Vanuatu. O Afeganistão, que havia classificado dois atletas, anunciou sua intenção de desistir a poucos dias da cerimônia de abertura, devido ao retorno dos talibãs ao poder; o IPC daria uma autorização para que a bandeira afegã participasse da Cerimônia de Abertura, e atuaria junto ao Comitê Paralímpico Afegão e ao governo da França, que se comprometeu a buscá-los no Afeganistão, para que esses dois atletas conseguissem chegar a Tóquio e competir normalmente, representando seu país.

O programa contaria com 539 provas de 22 esportes, com o futebol de sete e a vela sendo substituídos pelo badminton e o taekwondo. A China ficaria mais uma vez no topo do quadro de medalhas, seguida do Reino Unido, e então Estados Unidos, Comitê Paralímpico Russo e Holanda; o Japão anfitrião não se saiu bem, e terminou na 11a posição. O Brasil enviaria 253 atletas, e teria a melhor participação de sua história, com 22 ouros, 20 pratas e 30 bronzes; mais uma vez, porém, não conseguiria terminar no Top 5 do quadro de medalhas, ficando em sétimo. O futebol de cinco do Brasil ganharia sua quinta medalha de ouro seguida, o golbol masculino também seria ouro, e o vôlei sentado feminino conseguiria mais um bronze. Na bocha, dois bronzes, para José Carlos de Oliveira no BC1 e Maciel Santos no BC2. Na equitação, prata para Rodolpho Riskalla no individual IV. No judô, ouro para Alana Maldonado na categoria até 70 kg, e dois bronzes, para Meg Emmerich na acima de 70 kg e Lúcia Teixeira na até 57 kg. Na canoagem, ouro para Fernando Rufino no VL2, e duas pratas, para Luis Carlos Cardoso no KL1 e Giovane Vieira no VL3. Mariana d'Andrea seria ouro no powerlifting, categoria até 73 kg; Renê Pereira seria bronze nos single sculls do remo; e Jovane Guissone seria prata na espada B da esgrima em cadeira de rodas. No tênis de mesa, prata para Bruna Alexandre na C10, e dois bronzes, para ela e Danielle Rauen nas duplas C9-10 e para Cátia Cristina da Silva na C1-2. E o taekwondo traria uma medalha de cada cor, ouro para Nathan Sodario na até 61 kg, prata para Débora Bezerra na acima de 58 kg, e bronze para Silvana Fernandes na até 58 kg.

Daniel Dias se despediria das competições internacionais com três bronzes, nos 100 m e 200 m Livre S5 e no revezamento misto 4 x 50 m Livre 20 pts. A maior medalhista do Brasil nessa edição seria Maria Carolina Gomes Santiago, com três ouros, nos 50 m Livre S13, 100 m Livre S12 e 100 m Peito SB12, uma prata, no revezamento misto 4 x 100 m Livre 49 pts, e um bronze, nos 100 m Costas S12. Ainda na natação, Gabriel Araújo seria ouro nos 200m Livre S2 e 50 m Costas S2 e prata nos 100 m Costas S2; Gabriel Bandeira seria ouro nos 100 m Borboleta S14, prata nos 200 m Livre S14 e 200 m Medley SM14, e bronze no revezamento misto 4 x 100 m Livre S14; Wendell Belarmino ouro nos 50 m Livre S11 e bronze nos 100 m Borboleta S11; Talisson Glock ouro nos 400 m Livre S6 e bronze nos 100 m Livre S6; Cecília de Araújo prata nos 50 m Livre S8; Beatriz Carneiro bronze nos 100 m Peito SB14; Mariana Ribeiro bronze nos 100 m Livre S9; e Phelipe Rodrigues bronze nos 50 m Livre S10.

Mas o esporte que traria mais medalhas nessa edição para o Brasil mais uma vez seria o atletismo, no qual Yeltsin Jacques seria ouro nos 1500 m T11 e nos 5000 m T11; Alessandro Rodrigo da Silva seria ouro no arremesso de disco F11 e prata no arremesso de peso F11; Petrúcio Ferreira ouro nos 100 m T47 e bronze nos 400 m T47; Claudiney Batista ouro no arremesso de disco F56; Silvânia Oliveira ouro no salto em distância T11; Elizabeth Rodrigues ouro no arremesso de disco F53; Wallace Santos ouro no arremesso de peso T55; Thalita Simplício prata nos 200 m T11 e 400 m T11; Alex Douglas Pires prata na maratona T46; Marco Aurélio Borges prata no arremesso de peso F57; Vinicius Gonçalves prata nos 100 m T63; Raíssa Machado prata no lançamento de dardo F56; Marivana Oliveira prata no arremesso de peso F35; Thomaz Moraes prata nos 400 m T47; João Victor Teixeira bronze no arremesso de peso F37 e no arremesso de disco F37; Julyana da Silva bronze no arremesso de disco F57; Mateus Evangelista bronze no salto em distância T37; Jardênia Félix bronze nos 400 m T20; Jerusa Gerber bronze nos 200 m T11; Ricardo Gomes bronze nos 200 m T37; Washington Júnior bronze nos 100 m T47; Cícero Lins bronze no lançamento de dardo F57; e Thiago Paulino bronze no arremesso de peso F57.

Para terminar, uma lista dos esportes do programa paralímpico; entre parêntes, F significa que o esporte tem provas para deficientes físicos (como cadeirantes, amputados, paralisados cerebrais e pessoas com baixa estatura), V significa que o esporte tem provas para deficientes visuais, e ID significa que o esporte tem provas para deficientes intelectuais. O programa atual conta com atletismo (F, V, ID), badminton (F), basquete em cadeira de rodas (F), bocha (F), canoagem (F), ciclismo (F, V), equitação (F, V), esgrima em cadeira de rodas (F), futebol de cinco (V), golbol (V), judô (V), natação (F, V, ID), powerlifting (F), remo (F, V), rugby em cadeira de rodas (F),  taekwondo (F, V, ID), tênis em cadeira de rodas (F), tênis de mesa (F, ID), tiro com arco (F), tiro esportivo (F, V), triatlo (F, V) e vôlei sentado (F). Já fizeram parte do programa basquete (ID), dartchery (F), futebol de sete (F), futebol indoor (ID), lawn bowls (F, V), levantamento de peso (F), luta livre (V), sinuca (F) e vela (F, V). E, para 2024, está prevista a estreia da dança esportiva (F, V, ID).
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